O Medo da Liberdade
A frase de que me aproprio e dá título a este texto, é da autoria de Erich Fromm e titula um dos seus livros, originalmente publicado em 1941. Fromm, foi um psicanalista e filósofo social, que nasceu em 1900, em Frankfurt, na Alemanha, tendo falecido em 1980. Estudou nas Universidades de Frankfurt, Heidelberg e Munique, e no Instituto de Psicanálise de Berlim.
Após a ascensão de Hitler ao poder, deixa a Alemanha nazi em 1934 e exila-se nos Estados Unidos da América, onde vem a construir uma assinalável carreira como psicanalista, investigador e professor. Em 1938 naturaliza-se norte-americano. Para Fromm, a personalidade de um indivíduo era o resultado de fatores culturais e biológicos, tendo ganho destaque ao integrar os fatores socioeconómicos na explicação das neuroses. A sua obra pode ser considerada como um vigoroso protesto contra as diversas formas de totalitarismo e alienação social, e explora as necessidades que identificou como fundamentais e unicamente humanas, nomeadamente, a necessidade de estar ligado, o sentir-se enraizado, a transcendência, o sentimento de identidade e a estrutura de orientação. Defende que o ser humano ao longo da evolução se afastou, ou mesmo “desenraizou”, do seu vínculo com a natureza. É o capitalismo, que lhe havia trazido uma nova liberdade, que vem reforçar o efeito que a liberdade religiosa do protestantismo já tinha exercido sobre ele. O resultado é, no entanto, amargo, pois a existência é agora um problema, originando a epopeia da procura de uma resposta. De acordo com Fromm, a liberdade é uma espada de dois gumes. Por um lado, traz independência e racionalidade, proporcionando o direito de fazer escolhas livremente e ter a iniciativa de lutar pelo sucesso. Por outro, isola as pessoas e aumenta o risco de sucumbir à solidão e ansiedade. O sistema capitalista, enquanto modelo que visa o lucro, não valoriza a manutenção das relações interpessoais, aprofundando os sentimentos de solidão. A liberdade não traz apenas independência e racionalidade, mas também sentimentos de solidão, ansiedade e impotência. E aí, dois caminhos estão disponíveis para o ser humano: um para frente e outro para trás. Este último, é O Medo da Liberdade. Fromm, conclui, e sumarizando, que se a humanidade não conseguir viver com os perigos e responsabilidades inerentes à liberdade, acabará por se virar para o autoritarismo. Ora o momento que estamos atualmente a viver, tem dado sinais claros que o autoritarismo está a crescer no discurso político, sendo já possível identificar a ascensão de vários líderes em países democráticos, que lideram partidos políticos de extrema direita. O seu nascimento e escalada súbita na preferência dos cidadãos, decorre da falência dos partidos tradicionais que se deixaram aprisionar pela sobrevivência das suas máquinas partidárias e suas clientelas, e só após, surgem os ideais que os colocavam como baluartes ideológicos a seguir. Fromm, em 1941, já avisava para a leviandade que significava não estar à altura dos “perigos e responsabilidades inerentes à liberdade”, e qual prognóstico fatal, que quase chegados ao primeiro quartel do século XXI, o autoritarismo ressuscita. Mas há outras dimensões a que a sociedade contemporânea deve dedicar especial atenção, e que podem confluir para a diminuição das liberdades, e que resultam, também elas, do sistema económico liberal, como é o caso da concentração no capital privado, das infraestruturas que identificam e consolidam a soberania de um país. Refiro-me a infraestruturas portuárias e aeroportuárias, controlo dos sistemas de rede e distribuição de água, energia e gás, etc, assim como, embora noutra vertente, os órgãos de comunicação social e o sistema bancário. O Estado, ao transferir todo o conhecimento e as infraestruturas para o sector privado, entrega um enorme poder a pequenos grupos, o que, potencialmente, se pode traduzir na “captura do Estado”, constituindo um grave problema para o Estado de direito democrático. A vigilância e resiliência para a manutenção da Liberdade, é assim essencial em várias esferas da atividade humana.