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Guineenses em Portugal apelam a Marcelo para ajudar a "travar" Sissoco

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Dezenas de guineenses residentes em Portugal participaram hoje numa vigília frente à residência de Marcelo Rebelo de Sousa a quem apelam para "travar" o Presidente da Guiné-Bissau na decisão de dissolver o parlamento, que consideram "inconstitucional".

Apoiados em cartazes com críticas a Umaro Sissoco Embaló e com as cores da Guiné-Bissau destacadas em bandeiras e algum vestuário, os participantes fizeram-se ouvir através de um megafone que rodou por quem tinha alguma coisa a dizer sobre a atual crise guineense.

"Abaixo a decisão de dissolver a Assembleia Nacional", gritavam em uníssono no final de cada intervenção, algumas bastante acaloradas e com críticas ao chefe de Estado da Guiné-Bissau, enquanto outras recordavam Amílcar Cabral.

"Fora Sissoco golpista. Viva o povo guineense. Democracia já. Viva Cabral", lia-se num dos cartazes.

Rui Pinto Ribeiro, um guineense que vive em Portugal desde 1998, explicou que este movimento da sociedade civil escolheu Belém, dada "a ligação muito estreita" entre o Presidente da Guiné-Bissau e o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como com o primeiro-ministro cessante, António Costa.

"É uma ligação que dá conforto ao Sissoco", disse, afirmando que os manifestantes acreditam que Marcelo Rebelo de Sousa pode "reverter a situação desencadeada" pelo chefe de Estado da Guiné-Bissau.

"Basta uma chamada, um telefonema, um aviso, um aconselhamento muito duro, uma posição muito clara, para que a Constituição seja respeitada. A situação é revertida. Não há nenhum motivo para esta situação agora", disse.

E foi isso que juntou hoje dezenas de guineenses frente ao Palácio de Belém: Convencer Marcelo Rebelo de Sousa a "por um travão a Sissoco, porque a Constituição tem de ser respeitada".

Mariano Quadé, um dos promotores da vigília, alertou para o facto de estar "iminente uma caça às bruxas em Bissau".

"O Presidente decidiu, por seu livre arbítrio, perseguir e culpar quem ele achava que era responsável pela crise política no país, quando ele é o principal provocador da situação", referiu.

E prosseguiu: "O Presidente Marcelo, como nós sabemos, tem tido uma relação de grande proximidade com o Presidente Embaló, tem havido trocas até de condecorações, o que nos faz pensar que existe uma grande aproximação e um grande entendimento. O Presidente Marcelo poderá certamente falar com o seu homólogo, no sentido de o demover de uma decisão que é inconstitucional".

Para Mariano Quadé, a aparente relação de "respeito mutuo entre os dois presidentes" poderá levar à "intervenção de um sobre o outro, para o elucidar de um erro".

"Acreditamos piamente nisso, na ação do Presidente Marcelo no sentido de demover o Presidente Sissoco de uma decisão completamente inconstitucional", afirmou.

Em entrevista à Lusa na terça-feira, o presidente do parlamento da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, acusou Portugal de se deixar usar pelo chefe de Estado guineense "em vez de contribuir para o reforço da estabilidade, para a construção de instituições democráticas".

"Volta e meia, por tuta e meia, o Presidente [Sissoco Embaló] evoca conversas com [o Presidente da República de Portugal] Marcelo Rebelo de Sousa, com o primeiro-ministro António Costa e com outras autoridades [portuguesas]. E fá-lo com o intuito de evocar algum paralelismo com aquilo que acontece em Portugal e que, portanto, se é normal em Portugal, é normal na Guiné-Bissau", afirmou Simões Pereira.

No mesmo dia, o Presidente português disse que não se encontrou com o homólogo guineense desde meados de novembro, quando participou em Bissau nas comemorações dos 50 anos da independência do país africano, juntamente com António Costa.

Na quarta-feira, o Governo português repudiou, em comunicado, as declarações de Simões Pereira, referindo que Portugal "tem cooperado com todas as instituições e autoridades guineenses" para "a consolidação da estabilidade, democracia e Estado de Direito, bem como a promoção do desenvolvimento na Guiné-Bissau", respeitando a "plena soberania" daquele país.

Na segunda-feira, Embaló dissolveu o parlamento e anunciou o fim do Governo saído das eleições de junho passado, em decorrência do que afirma ser uma tentativa de golpe de Estado que estava em curso no país.

O golpe estaria a ser preparado pela Guarda Nacional, de acordo com o Presidente e o chefe das Forças Armadas, general Biague Na Ntan.