MP venezuelano quer prender opositores que contestam referendo sobre Esequibo
O Ministério Público (MP) da Venezuela emitiu hoje mandados de detenção contra 14 pessoas, várias deles da equipa da opositora Maria Corina Machado, por alegados vínculos com uma conspiração nacional e internacional contra a o país.
O anúncio foi feito pelo Procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, precisando que estes cidadãos estão estariam a conspirar contra o referendo consultivo de 03 de outubro último sobre o Esequibo, território em disputa com a vizinha Guiana.
"O MP solicitou mandados de captura em relação a este plano de financiamento e conspiração relacionado com a ExxonMobil [petrolífera norte-americana que opera no território em disputa] contra a Venezuela para torpedear e tentar fraturar a luta soberana do nosso povo pelo Esequibo", disse numa conferência de imprensa em Caracas.
Segundo Tarek William Saab foram emitidos mandados de detenção contra Roberto Abdul, Henry Alviárez, Pedro Urruchurtu e Claudia Macero, que integram a equipa de Maria Corina Machado, vencedora das recentes eleições primárias da oposição.
Foram ainda emitidos mandados de captura contra os políticos opositores Jhon Goicochea, Juan Guaidó, Júlio Borges, David Smolanski, Carlos Vecchio e Leopoldo López, identificados como "operadores no estrangeiro".
Também contra o norte-americano Savoi Jandon Wright, o advogado e ativista venezuelano Lester Toledo, o ex-ministro do Turismo do chavismo Andrés Izarra e o ex-presidente da empresa estatal Petróleos da Venezuela SA (PDVSA), Rafael Ramírez.
Estes cidadãos vão se imputados pelo MP pelos alegados crimes de traição à pátria, conspiração, branqueamento de capitais e associação para cometer crimes.
Por outro lado, precisou que Carlos Vecchio "trabalhou para a ExxonMobil entre o início dos anos 2000 e até 2007 e entrou na política depois de a ExxonMobil" ter deixado a Venezuela "após não ter aceitado as condições das empresas mixtas criadas pelo Presidente Hugo Chávez".
Segundo Tarek William Saab, as investigações estão numa fase preliminar, mas "existe uma testemunha protegida que está a fornecer informações extremamente importantes sobre as ligações nacionais e internacionais nesta matéria".
Sobre a origem dos fundos usados para a conspiração precisou que surgiram do "branqueamento de capitais de organizações internacionais e de empresas estrangeiras como a ExxonMobil".
Também que o financiamento foi materializado através de criptoativos manejados por Damián Merlo, um ex-empresário norte-americano de telecomunicações e antigo assessor de política exterior, vinculado coo ex-Presidente dos EUA, Donald Trump, e assesor de Nayib Bukele [presidente de El Salvador].
Em 3 de dezembro último os venezuelanos participaram num referendo consultivo sobre o Esequibo, tendo votado favoravelmente às intenções do Governo de anexar o território à Venezuela.
A região de Esequibo, que aparece nos mapas venezuelanos como "zona em reclamação", está sob mediação da ONU desde 1966, quando foi assinado o Acordo de Genebra.
Com uma extensão de 160 mil quilómetros quadrados e rico em minerais, Esequibo está sob administração da Guiana, com base num documento assinado em Paris, em 1899, que estabelece limites territoriais que a Venezuela não aceita.
Em 2015 a ExxonMobil descobriu várias jazidas petrolíferas no Esequibo.
Entretanto, a Guiana autorizou já oito empresas petrolíferas estrangeiras a explorar jazidas petrolíferas em águas reclamadas pela Venezuela.