Estamos fechados. Encontramo-nos na placa
A partir da segunda semana de Janeiro voltamos a ver-nos num ginásio perto de si
Fechámos no passado dia 1 de Dezembro e voltamos a 7 de Janeiro. Se quiser encontrar alguém, vá à placa todas as noites ou ao adro de uma igreja às 6 da manhã a partir do dia 15. Claro que de manhã vamos passar pelo trabalho para verem que não estamos de férias, mas depois vamos a mais um almoço de Natal e passamos na loja para fazer compras. Encontramos toda a gente pela rua e paramos para falar dois minutos, mas como são dez, paramos vinte. Mas ninguém leva a mal. Não há pressas. O mês da Festa é isto, simplesmente, comemos e bebemos (nalguns casos bebemos mais do que comemos) como se não houvesse amanhã e fazemos juras de amor com o ginásio para Janeiro.
É Dezembro, está tudo dito. Quem chega de fora nem sabe bem o que é a placa e mesmo que procure no google não encontra essa coisa estranha onde toda a gente diz que vai estar ao fim do dia. Para quem passa aqui uns dias neste mês, acha que nos manifestamos contra alguma coisa, porque a concentração é tanta que se nos dessem coletes amarelos ia parecer que estávamos em Paris.
Estamos fechados. Já não se marcam reuniões e tudo o que for urgente pode ficar para Janeiro. Menos os partos, pois esses não têm hora marcada e os bebés é que mandam. Mas se por acaso alguma mãe quiser antecipar o momento pode mandar um mail ao filho do outro no Brasil, que manda para o pai, que despacha para a Casa Civil assuntos privados e depois mente descaradamente como se fôssemos todos uns atadinhos do cérebro.
Esse é que podia vir para a placa central até Janeiro e às missas do parto durante aquela quinzena mágica. Com umas ponchas talvez não lesse os mails e não despachava nenhuma asneira para a Casa Civil. Agora ponho-me a imaginá-lo a tocar pandeireta no adro da igreja do Curral das Freiras e a cantar a “Virgem do Parto”. O lado bom da história? Podíamos fechar o túnel e abrir quando chegasse a 2026, antes que as coisas piorem para o lado dele. O lado mau? Quem ficasse com ele teria de o aturar durante dois anos e meio. Mas era para o bem da Pátria e às vezes precisamos sacrificar-nos por ela.
Adiante. A “vida tão estranha”, como canta o Rodrigo Leão assola-nos este mês. E até meados de Janeiro ninguém nos vê a não ser que esteja na placa, até a terceira poncha. A partir daí alguns já não vêem mesmo patavina.
A partir da segunda semana de Janeiro voltamos a ver-nos num ginásio perto de si ou a ensaiar numa trupe de Carnaval. Depois vêm as outras festas mas estamos preparados. Os madeirenses são gente rija, alimentada a sopas de cavalo e rum de contrabando. Só isso explica como é que nos aguentamos em pé o ano inteiro, festa após festa.