A maldição da Palestina

O ataque do Hamas, a 7 de Outubro (7OUT) em Israel, e o consequente bombardeamento da Faixa de Gaza, colocaram a Questão da Palestina na agenda mediática.

Desde o horror do 7OUT, que somos confrontados com imagens perturbadoras - que nos tiram o sono. O desastre humanitário é avassalador. Ainda por cima, não se vislumbra qualquer solução política para a Faixa de Gaza. Teme-se que Israel - apesar dos desmentidos - fique por tempo indeterminado.

Apesar da pressão diplomática para um cessar-fogo, o “status quo” da guerra Israel Hamas continua igual: Israel quer acabar com o Hamas; o Hamas quer acabar com Israel.

Tanto o Hamas como Israel julgam ter legitimidade para matar inocentes: o Hamas em nome de uma guerra santa islâmica; Israel em nome de um direito de defesa tão abrangente que permite tudo e mais alguma coisa. As narrativas legitimadoras de um e outro lado são tão fortes que não conseguem reconhecer o seu equívoco moral.

O conflito entre judeus e palestinianos é antigo. A história desse conflito - longo e complexo - não cabe aqui. Mas para perceber como chegamos a este clímax de violência é essencial ter presente que o Estado de Israel foi fundado por uma minoria de judeus, contra a vontade da maioria da população árabe da Palestina.

Foi exatamente no dia seguinte a essa fundação de Israel, a 15 de Maio de 1948, que seis exércitos árabes atacaram Israel. Desde esse dia, a Palestina nunca mais conheceu a paz - apesar das muitas tentativas da comunidade internacional.

A guerra israelo-árabe (1948-1949) foi vencida por Israel - que aproveitou para ampliar o seu território. Cerca de 900 mil palestinianos - que fugiram das suas terras - nunca mais puderam voltar a casa. Os seus descendentes ainda hoje vivem em campos de refugiados por todo o Médio-Oriente. Os palestinianos referem-se a esta desgraça como a “Nakba” (catástrofe).

A vitória de Israel em 1949 fixou um padrão que viria a repetir-se vezes sem conta: os palestinianos atacam os israelitas, mas a superioridade militar destes acaba sempre por ditar as regras do jogo. A presente guerra Israel-Hamas não foge a essa regra. Com a diferença que Israel tem, agora, uma superioridade militar esmagadora: por terra, mar e ar. Tem mesmo um arsenal de cerca de 200 ogivas nucleares, capaz de dissuadir qualquer inimigo.

Mesmo com toda a sua força militar, a segurança de Israel não está garantida. O 7OUT mostrou que até o sistema de segurança mais sofisticado do mundo é vulnerável a um ataque terrorista de surpresa - o que foi um duro golpe no imaginário de segurança dos israelitas.

Desistir da paz não é solução para ninguém. É preciso continuar a tentar. No entanto, o extremismo islâmico e de Israel só prometem mais guerra. Com estes atores nunca haverá paz na Palestina.

São precisas novas lideranças políticas para acabar com a maldição da Palestina. Sem esquecer que a paz também vai depender da boa vontade de outros atores - regionais e globais.

Manuel Pereira