Candidatos presidenciais de Taiwan querem paz nas relações com China
Os três candidatos à presidência de Taiwan expressaram num debate conjunto realizado ontem o desejo de manterem relações pacíficas com a China, que tem aumentado a pressão militar sobre um território que considera seu.
No debate televisivo, reproduzido pelas agências internacionais, William Lai, atual vice-presidente e considerado favorito às eleições marcadas para 13 de janeiro, disse que está disposto a dialogar com as autoridades chinesas.
"Desde que haja igualdade e dignidade nos dois lados do estreito de Taiwan, a porta de Taiwan estará sempre aberta", disse, frisando que está disponível para cooperar com a China no sentido de "melhorar o bem-estar das pessoas dos dois lados do estreito de Taiwan".
Considerando que existe uma consciência global da "ameaça que a China representa para Taiwan e para a comunidade internacional", o candidato do Partido Democrático Progressista (no poder, tradicionalmente pró-independência) destaca que a resposta deve ser "união e cooperação para garantir a paz".
Taiwan, para onde o exército nacionalista chinês se retirou depois de ter sido derrotado pelas tropas comunistas na guerra civil, é governada de forma autónoma desde 1949 e está a duas semanas de uma eleição crucial, cujos resultados podem determinar o futuro da relação com a China.
Pequim, que reivindica a ilha como parte do seu território, admite recorrer à força se necessário e interrompeu as conversações de alto nível com a administração de Tsai Ing-wen, que chegou ao poder em 2016.
O Partido Democrático Progressista tem levado a cabo uma campanha para um programa de soberania separada da China e o vice-presidente Lai descreve-se como "militante pragmático da independência de Taiwan".
Pequim acusa Tsai e Lai de "separatismo" e de quererem provocar um ataque chinês sobre Taiwan e apoia Hou Yu-ih, candidato do Kuomintang (partido nacionalista) às eleições de 13 de janeiro.
Considerado mais amigável, o Kuomintang apoiou, no passado, a unificação com a China, mudando de posição nos anos recentes, à medida que o eleitorado se foi identificando mais como taiwanês -- por oposição a chinês.
Hou defende "democracia e liberdade" para Taiwan, mas opõe-se à independência.
Recusando a unificação com a China, destacou, no debate, a importância de manter relações pacíficas com Pequim.
O terceiro candidato presidencial, Ko Wen-je, do Partido do Povo, sublinhou que as pessoas dos dois lados do estreito "são da mesma raça e têm a mesma história, língua, religião e cultura, mas, nesta fase, têm diferentes sistemas políticos e modos de vida", fazendo depender o diálogo com Pequim da preservação da democracia que existe em Taiwan.
Em Pequim, Chen Binhua, porta-voz do gabinete para os assuntos taiwaneses, que gere as relações com a ilha, reagiu ao debate televisivo criticando a prestação de Lai, a quem aponta uma "mentalidade de confronto".
Citado pela agência Chine Nouvelle, acusou o candidato favorito de "sabotar o desenvolvimento pacífico das relações entre as duas margens do estreito".
Os dois mandatos de Tsai Ing-wen, que não pode candidatar-se a um terceiro mandato, foram marcados por tensões acrescidas com a China, especialmente desde o verão passado, por causa da visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA Nancy Pelosi, numa deslocação que suscitou a ira de Pequim.
A sombra da China, que Taiwan acusa de querer interferir no resultado da votação através de pressões militares e económicas, paira sobre as eleições.
A China já avisou que considera as eleições em Taiwan uma escolha entre a paz e a guerra e tem aumentado a pressão militar no estreito, abeirando a ilha com navios e aviões quase diariamente.
Na sexta-feira, Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa, advertiu que Pequim vai tomar "todas as medidas necessárias para proteger a soberania nacional e a integridade territorial".