Ano alucinante apesar dos intervalos
E num ápice chegamos ao fim de mais um ano. Que passou a correr, mesmo que as leis anacrónicas e a desconsideração pela inteligência dos cidadãos tivessem imposto demorados intervalos na normalidade colectiva. Que foi fértil em posturas fracturantes, novamente mais visíveis no domínio político, mas que também fustigaram o mundo da bola que se viu despromovido e sem liderança capaz de dar a volta ao previsível. Que motivou comportamentos pidescos dos frustrados da baixa política, a quem aconselhamos avultadas poupanças para que possam honrar as possíveis sanções que se avizinham.
2023 foi memorável. Por causa dos recordes em vários domínios, que deixam a Região orgulhosa, o mesmo acontecendo com os feitos pessoais e colectivos dos nossos melhores, tenham sido distinguidos ou ignorados. Colhemos o que plantamos e se desta feita atingimos números nunca vistos em sectores em que temos saber acumulado e provas dadas, mais do que promover feiras de vaidades com os louros obtidos, convém intensificar o trabalho para manter a fasquia elevada naquilo que depende do nosso atrevimento, experiência e criatividade.
2023 foi desafiante. Por colocar à prova a capacidade negocial dos que não estavam habituados a perder, mesmo ganhando. Por obrigar a gerir os euros que quase nunca chegavam para cobrir os pagamentos estipulados, mas constantemente alterados pelo aumento brutal do custo de vida e pela subida das taxas de juro. Por motivar a que tenhamos uma consciência global e que mesmo vivendo na ilha não estamos imunes aos caprichos dos senhores da guerra, aos dissabores provocados pelas alterações climáticas e aos fenómenos migratórios, nos quais fomos outrora actores principais.
2023 foi inédito. Por provar que as maiorias, mesmo que absolutas, também se abatem, sobretudo se estiverem expostas ao ridículo e minadas pela corrupção. Por provar que as somas das partes coligadas à força nem sempre valem mais do que o todo, sobretudo se houver a percepção pública que a sobranceria merece castigo. E ainda por relevar gente que confunde notícias com opinião e convive mal com a crítica impressa nesta página, nas cartas do leitor, e nos artigos de opinião e até em rubricas satíricas.
Para 2024 desejamos aquilo que para muitos até pode ser utópico, mas que se afigura elementar para que o desenvolvimento humano e social não esmoreça.
. Cidadania activa. Não só para denunciar com provas inquestionáveis os abusos de poder, as irregularidades do sistema ou os alegados favorecimentos. Mas sobretudo para exigir atenção e diálogo a quem decide sem tempo para planear e actuar com discernimento. Para que possam surgir soluções exequíveis na melhor gestão da coisa pública. Para que as alternativas aos modelos comprovadamente geradores de assimetrias sejam, pelo menos, ensaiadas.
. Maturidade democrática. Para que cada um, em qualquer área de actuação, possa propor sem ser vítima da sua ousadia. Para que todos possam falar sem atropelos, gritos ou calúnias. Para que ninguém escape às consequências de cada acto, sem culpar terceiros. Para que as escolhas em consciência sejam respeitadas.
. Prosperidade contagiante. Há quem prefira o caos, tenha inveja do sucesso e destile ódio perante tudo o que mexe. Mas há também quem opte por enaltecer o que nos faz bem, dá notoriedade e alimenta a esperança. A esse nível, a estabilidade governativa na Madeira e no País desde que posta ao serviço de todos os cidadãos e fortemente escrutinada é um bem comum. O que implica seriedade e transparência a quem está no poder, a acutilância educada a quem está na oposição e paixão pela verdade a quem dá notícias assentes em factos.