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Milhares protestam de novo em Belgrado contra alegada fraude eleitoral

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Foto ANDREJ ISAKOVIC / AFP

Várias dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se hoje no centro de Belgrado contra a alegada fraude eleitoral nas eleições do dia 17, da qual acusam o presidente populista, Aleksandar Vucic, no poder desde 2012.

Os protestos organizados pela oposição ou pelos estudantes têm sido diários desde as eleições, tendo os de hoje sido convocados pela iniciativa cívica ProGlas (ProVoto, em sérvio), sob o lema "Não aceitamos".

"Não aceitamos a falsificação da vontade eleitoral, não aceitamos a invalidação da democracia e do Estado de direito e não aceitamos o nascimento de uma autocracia na Sérvia", explicaram os porta-vozes da iniciativa durante o protesto, transmitido ao vivo na estação sérvia N1.

"Ladrão Vucic!", "Ladrões", "Abram os cadernos eleitorais!", "Pedimos Justiça" e "Para o Ano Novo quero liberdade" são algumas das frases entoadas pelos manifestantes ou escritas nas faixas que transportam, avançou a agência EFE.

A iniciativa ProGlas, bem como a coligação da oposição Sérvia contra a violência (SPN) e mais de vinte organizações não governamentais (ONG) de defesa dos direitos humanos apelam à anulação das eleições legislativas e locais realizadas este mês e à sua repetição dentro de cerca de seis meses.

Pedem também uma revisão independente das irregularidades denunciadas, com mediação internacional.

"Estas eleições devem ser anuladas", declarou umas das líderes da oposição, Marinika Tepic, perante os manifestantes, visivelmente fragilizada, devido à greve de fome que está a cumprir há 14 dias, em protesto contra a alegada fraude eleitoral.

Já Radomir Lazovic, também da oposição, acrescentou que "as eleições foram roubadas". "Exigimos a sua repetição em condições justas, com cadernos eleitorais regulamentados e sem eleitores fictícios", realçou.

Ao protesto de hoje juntaram-se estudantes que organizaram um bloqueio de 24 horas desde o meio-dia de sexta-feira numa artéria principal de Belgrado, para exigir a publicação e revisão dos cadernos eleitorais.

Nas eleições de 17 de dezembro foi eleito um novo parlamento nacional e também os novos órgãos de poder autárquico em 65 cidades, incluindo Belgrado.

A nível nacional, o Partido Progressista Sérvio (SNS), do presidente Vucic, venceu com 47% dos votos, o dobro do apoio obtido pelo SPN, que também perdeu, por pouco, na capital, onde esperava ganhar a câmara municipal.

Os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), do Parlamento Europeu, da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e da Transparência Internacional denunciaram várias irregularidades no processo eleitoral, entre elas o domínio de Vucic sobre os meios de comunicação, a difamação da oposição, o abuso de recursos públicos, bem como a pressão sobre os eleitores, incluindo a compra de votos.

Aleksandar Vucic rejeitou as acusações, dizendo que são totalmente infundadas, e a primeira-ministra, Ana Brnabic, agradeceu aos serviços secretos russos o aviso de que a oposição estava a preparar-se, antes das eleições, para organizar manifestações com vista a derrubar o Governo.

As instituições aceitaram alguns apelos para que a votação se repita hoje em 35 do total de 8.300 mesas de voto do país, o que a oposição considera totalmente inadequado, razão pela qual está a boicotar o processo.

Depois de vários discursos de representantes do ProGlas, opositores e jovens ativistas, os manifestantes iniciaram uma marcha até ao Tribunal Constitucional, onde também vão pedir a repetição das eleições.

A manifestação de hoje foi organizada simbolicamente numa área central de Belgrado que, no início da década de 1990, foi palco de manifestações contra as políticas belicistas e antidemocráticas de Slobodan Milosevic.

A Sérvia procura formalmente a adesão à União Europeia, mas a nação balcânica manteve laços estreitos com Moscovo e recusou-se a aderir às sanções ocidentais impostas à Rússia devido à invasão da Ucrânia.