A propósito do 25 de Novembro
No dia 25 de novembro de 1975 foi recuperado o caminho da democracia que o 25 de abril tinha prometido. A ameaça autocrática provinda do Partido Comunista e dos seus satélites, para além do que, na altura, eram grupúsculos da extrema-esquerda, foi controlada e anulada. O Grupo dos Nove e alguns membros dentro do Movimento das Forças Armadas, permitiram que essa mudança radical no Processo Revolucionário Em Curso (vulgo PREC), acontecesse. Segundo a entrevista a Jaime Nogueira Pinto que tive a oportunidade de ler no Diário de Notícias de Lisboa, os serviços secretos dos EUA e da URSS, tiveram parte muito importante na questão, em termos da definição de apoios num quadro internacional que ainda era, na época, tributário dos Acordos de Ialta e do clima da Guerra Fria.
Claro que os partidos democráticos que, entretanto, se tinham organizado, do Partido Socialista ao, então, Partido Popular Democrático, e ao Centro Democrático Social, apoiaram este movimento militar e comparticiparam nos acontecimentos e nos seus desenvolvimentos. Os que, empenhadamente, viveram esses tempos, nunca esquecerão as atitudes corajosas de Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral, entre outros, no apoio a uma ideia de um sistema democrático para Portugal, que, na altura, ainda estava em formação.
Devemos prestar tributo, a cada 25 de novembro que passar, aos que nos proporcionaram a oportunidade de nos constituirmos parceiros, de pleno direito, do mundo democrático e da Europa civilizada. Vivam sempre, na memória do povo português, os militares e os políticos que o permitiram. Nunca deixaremos de ser reconhecidos a estes heróis da Liberdade!
O que não se compreende é a tentativa, repetida, de apoucar o 25 de abril de 1974 à conta do 25 de novembro de 1975: ambas foram datas fundadoras do regime democrático no qual vivemos e que legamos aos nossos filhos e netos e outros que depois vierem! Sem uma ter acontecido, nunca teria ocorrido a outra; não se excluem, antes se integram. À eclosão da Liberdade, sucedeu-se a afirmação da Democracia! Este é o registo histórico.
É claro que não farei de conta que desconheço todas as movimentações, algumas ostensivas, outras ocultas, que ocorreram entre as duas datas. Tenho, porém, de equacioná-las nesse período histórico, bastante volátil e, portanto, exigindo, a mais das vezes, respostas imediatas e pouco refletidas. Os julgamentos que quisermos fazer desses factos, com este afastamento de quase cinquenta anos, terão de, forçosamente, ter em conta as circunstâncias que se viviam, sob pena de serem injustos. Reconduzir tudo, numa visão extremada e simplista, a dogmatismos de esquerda ou de direita, será sempre redutor, simplista e, portanto, falso.
O 25 de Abril, como o 25 de Novembro, são datas fundamentais da nossa cidadania democrática, afirmando-se pela sua conjugação e, nunca, pelo seu confronto! Viva a Liberdade e a Democracia!
João Cristiano Loja