Cultura woke chega à identidade visual da República
A simbologia de um país não deve ou não devia ser alterada sem um amplo consenso nacional
Cada semana uma polémica nova. Cá no burgo salivamos por uma boa intriga, embora nos estejamos sempre a queixar delas. Basicamente, o executivo de António Costa decidiu retirar da imagem da República portuguesa as Quinas e a Esfera Armilar, supostamente para a tornar “mais inclusiva, plural e laica”, com “consciência ecológica reforçada”. Vamos então por partes. De uma forma estritamente técnica, como profissional de comunicação entendo que se possam procurar novos formatos de representação do símbolo por forma a que ele tenha um desempenho mais objectivo e prático mas que continue a cumprir as suas funções e que não lhe retire a marca identificativa. Até aí entendo, podendo concordar mais ou menos com as tendências de mercado, o facto é que hoje em dia, no design e na comunicação tenta-se por tudo uma procura pela simplificação dos elementos e pela sua capacidade transformativa que facilite as suas mais diversas aplicações, dando-lhes um crivo camaleónico e dinâmico.
Em termos de identidade visual, o logo é a peça-chave para desenvolver todas as outras formas de comunicação, pois é a própria representação gráfica da marca. Neste caso, para algumas situações especificas, existe a “moda” de ir buscar figuras geométricas e outros elementos básicos para que o seu desempenho quando aplicado, seja mais fácil de reproduzir. Para além disso, com formas destas existe um sem número de declinações e a capacidade para “brincar” com os elementos nos mais diferentes contextos. Embora eu seja contra esta nova forma de querer transformar e alterar tudo, muitas vezes só porque sim ou para mostrar trabalho, entendo que a necessidade da aplicabilidade dos logos nos mais diferentes contextos pede essa mesma simplificação para elementos mais facilmente reproduzíveis e que permitam a sua apresentação de forma mais coerente e criativa, embora considere que a imagem de uma República deva ser tratada de forma mais cautelosa, por mexer com uma simbologia representativa de todos.
O que não consigo de todo entender é esta necessidade constante, de procurar justificações pífias e ridículas, trazendo constantemente à colação esta cultura woke, em que tudo é resultado de uma construção patriarcal, heterossexual e branca e como tal devemos encontrar formas de eliminar o agente corruptor e toda a simbologia que remeta para ele. Primeiro não consigo entender muito bem de que forma a consciência ecológica pode sair reforçada desta alteração e depois não me entra na cabeça este formato politicamente correto, que serve para dar um contexto bonito e socialmente responsável, em que se juntam palavras como a inclusão, o pluralismo ou o laicismo para que o objecto de estudo não possa ser alvo de criticas. Quanto ao valor pago, embora me pareça à partida um valor elevado, não estando eu na posse de toda a informação, do que foi pedido e entregue, não me permito comentar sob pena de poder estar a ser injusto com o trabalho feito.
Não deixo de considerar que a simbologia de um país não deve ou não devia ser alterada sem um amplo consenso nacional, nem navegar à vontade do partido que se encontra num determinado momento no poder. Deve ser algo estável e absoluto. Como disse no principio do texto, até entendo que se procurem novos caminhos para tornar as imagens mais operativas e que se tente “responder de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital e dinâmica”, ainda assim parece-me que se exigia neste caso, mais sensibilidade para tratar de um símbolo que plasmava e reproduzia a nossa bandeira.