Sinais de alerta
Miguel Albuquerque fez, durante a semana, dois comentários que assentam que nem uma luva na realidade social e económica da Região. Para ele, o empobrecimento da classe média e a concentração da riqueza motivam alerta. Mas o presidente do Governo foi mais longe e afirmou que a concentração da riqueza num grupo cada vez mais restrito de pessoas é “criar um monstro”.
O diagnóstico é tão mais assertivo na semana em que ficámos a saber que a Madeira é a segunda região do País com maior taxa de pobreza e exclusão social. Os dados publicados pela Direcção Regional de Estatística (DREM) revelam que estamos muito longe de alcançar uma sociedade justa e digna para todos. Um em cada quatro madeirenses estão mais do que com a ‘corda ao pescoço’. Apesar da redução verificada face a 2022 (-2,1 pontos percentuais), 24,8% da população madeirense vive com um rendimento que se encontra abaixo da linha de pobreza, ou seja, 7.095 euros anuais, valor que corresponde a 60% do rendimento monetário líquido anual mediano por adulto equivalente para Portugal. A Região está a mais de 7 p.p. do que a realidade do País. Atrás apenas os Açores. Esta realidade dramática evidencia, também, um dos principais falhanços das autonomias regionais. A caminho do meio século conferiu-nos instrumentos para gerirmos o nosso destino, mas não evitou um fosso social gigantesco, constituindo um sinal de alerta sério que os políticos não podem ignorar. O diagnóstico (nada simpático) está feito. E se o próprio presidente do Governo assume esta realidade, terá de fazer muito mais para esbatê-la, tirando a Madeira das taxas de pobreza que nos envergonham. A tarefa não será fácil, mas como temos por diversas vezes defendido, não pode assentar em políticas assistencialistas, mas sim efectivas e duradouras. Estruturais. Baixar a carga fiscal das empresas, pressionando-as a aumentar os rendimentos dos seus trabalhadores é apenas uma das soluções, a par da diminuição também dos impostos sobre as famílias. Ainda há margem para o fazer. De que nos serve uma Região com as finanças bem cotadas internacionalmente, se uma franja considerável dos seus habitantes não tem para o básico? A pobreza não se esgota apenas na falta de dinheiro no bolso, condiciona todas as frentes: do acesso à saúde e à educação. Erradicar a pobreza deveria constituir uma estratégia intergovernamental e um pacto para as próximas décadas, transversal a partidos e organizações empresariais. Erradicar a pobreza não é uma meta inalcançável?
2. Paulo Cafôfo foi, como seria de esperar, eleito por uma esmagadora maioria dos militantes, presidente do PS-M. Já disse que o seu principal objectivo é ganhar o Governo Regional e tornar-se presidente. Para lá chegar tem um caminho para fazer, que não se coaduna com purgas internas, guerras de facções, mas com uma liderança determinada e pragmática.
Para conseguir a confiança do eleitorado, Cafôfo não pode dar tiros nos pés, nem cometer os erros do passado. Tem de convencer a população da bondade das suas propostas. O seu primeiro teste são já as Legislativas de Março, eleições essas em que deve apresentar um candidato credível, com uma mensagem segura, empático e sem ‘rabos de palha’. A tarefa do PS não é fácil neste escrutínio porque muito provavelmente irá perdê-lo. Há uma mudança de ciclo no ar, onde o novo líder não deve avançar como cabeça-de-lista. Não faz sentido e mostra sofreguidão. O seu centro de acção tem de estar na Madeira e deve resguardar-se para o combate com o número 1 do PSD-M na altura própria, que poderá ser novamente Miguel Albuquerque ou Pedro Calado. A pressa é má conselheira e como já todos percebemos Paulo Cafôfo tem um conjunto de militantes identificado que vai fazer tudo para boicotar a sua acção. Ou os combate politicamente de frente, esvaziando o seu raio de acção ou ficará refém da famigerada autofagia que tem marcado o caminho socialista na Madeira, com a respectiva repercussão nas urnas.