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Ora Bolas!

Os símbolos nacionais não se improvisam, sobretudo num País com nove séculos e, ao que se diz, com as fronteiras mais antigas da Europa.

Esses símbolos representam normalmente uma síntese da História ou a fixação de um momento especial. A França, por exemplo, trocou a bandeira com a flores-de-lis dos Bourbon, tema da heráldica familiar, pela revolucionária bandeira tricolor, representando a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. A ideia era tão forte que ficou, e serviu de exemplo a muitas bandeiras tricolores que vieram depois.

As estrelas e riscas dos EUA, outro símbolo revolucionário, foram também sendo glosadas no Continente Americano, e não só. A Union Jack, a bandeira do Reino Unido, é a fusão das bandeiras dos reinos insulares, e, curiosamente, não teve seguidores.

Não sendo infinita a combinação das cores, recorre-se por vezes a um símbolo heráldico para individualizar um país. A Itália e o México têm bandeiras semelhantes, verde, vermelho e branco, distinguindo-se pelo escudo central.

Desde a instrução primária que nos é ensinada a evolução da bandeira nacional, desde a simples cruz azul em campo branco, até à nossa erudita e complexa bandeira actual.

Decerto que, nos tempos do artesanato e da proto indústria, era complicado executar uma bandeira portuguesa. Idem quanto ao escudo nacional, ainda por cima por vezes complementado com ramos de louro ou de carvalho. Pintar, bordar, desenhar, recortar, colar: um bico-de-obra.

Mesmo assim, na transição da Monarquia conservadora para a República inovadora, alteradas as cores azul e branco para verde e vermelho, permaneceu na bandeira o fundamental das armas nacionais, expurgada a coroa e enriquecida pela esfera armilar.

Por isso se compreende que alguns invejassem os franceses: três tiras de pano cosidas, e já está.

Esquecendo a heráldica.

Mas a tecnologia não pára, e hoje esses problemas são facilmente ultrapassados, em bandeiras ou escudos, em impressos ou logotipos.

Por isso achei estranho que, em pleno século XXI, se tivesse procurado um novo logo, estilizado e simplificado, mas desprovido de toda a carga heráldica e histórica.

Assim, o símbolo nacional passou a ser dois rectângulos, verde e vermelho, e um círculo amarelo.

Outras bandeiras ostentam círculos. À partida a do Japão, com um sol nascente vermelho, agora expurgado dos raios que simbolizavam um expansionismo agressivo. A do Brasil tem um globo terrestre, mas complicado por uma faixa e uma constelação.

A da Gronelândia tem um círculo bipartido, vermelho e branco, sobre fundo nas mesmas cores, num jogo geométrico tipo pop art. A do Laos apresenta um círculo branco sobre fundo vermelho e azul. A mais conforme a tendência dos designers nacionais é a de Palau, com um círculo amarelo (isso mesmo!) sobre fundo azul.

Na busca do minimalismo na representação nacional, só mesmo Palau nos ultrapassa.

E assim nos integramos na onda da rejeição da Heráldica e da História, reduzindo a esfera armilar a uma bola, omitindo os castelos centenários e banindo as quinas quase milenárias.

Será que o culto do futebol, e outros desportos, teve influência nesta opção redutora?

Ora bolas!