Tribunal russo recusa candidatura presidencial de política defensora da paz na Ucrânia
Uma política independente russa que apelou à paz na Ucrânia perdeu hoje o recurso judicial contra a recusa das autoridades eleitorais em aceitar a sua nomeação para a corrida presidencial do país, escrutínio agendado para março de 2024.
A antiga deputada regional, ex-jornalista e advogada Yekaterina Duntsova, que defendeu uma Rússia "humanitária, pacífica, amigável e pronta a cooperar com todos, com base no princípio do respeito" viu, no fim de semana passado, a Comissão Eleitoral Central recusar-se a aceitar a sua nomeação a candidata presidencial, apresentada por um grupo de apoiantes, alegando erros nos documentos, incluindo de ortografia.
Interposto um recurso, o Supremo Tribunal da Rússia reiterou hoje a decisão da comissão, tendo Duntsova anunciado após a deliberação que vai trabalhar na criação do seu próprio partido político, que representará "paz, liberdade e democracia".
"Conquistaremos o direito de viver sem medo, falar livremente e ter confiança no futuro", disse, numa mensagem publicada numa rede social.
Duntsova pediu aos líderes do partido político liberal Yabloko que a nomeassem como candidata, mas o seu fundador, Grigory Yavlinsky, rejeitou a ideia.
O controlo apertado que o Presidente russo, Vladimir Putin, estabeleceu durante os 24 anos que está no poder torna a sua reeleição nas eleições presidenciais de março praticamente garantida.
Críticos proeminentes que poderiam desafiá-lo estão na prisão ou vivem exilados no estrangeiro e a maioria dos meios de comunicação independentes foi proibida.
Alguns partidos russos nomearam já os seus candidatos, mas nenhum deles apresenta-se como um adversário de facto para Putin.
O Partido Comunista Russo, a segunda maior força política representada na câmara baixa do parlamento, a Duma Estatal, nomeou o deputado veterano Nikolai Kharitonov.
Kharitonov tornou-se hoje oficialmente candidato à presidência da Rússia ao apresentar os seus documentos à Comissão Eleitoral Central.
O político, de 75 anos, foi aprovado como candidato presidencial no sábado, no congresso do partido, que apoia a campanha militar na Ucrânia.
O comunista já participou nas eleições presidenciais russas de 2004, nas quais ficou em segundo lugar com 13,69% dos votos.
Espera-se que a comissão eleitoral registe Kharitonov como candidato, apesar de o jornal 'online' Meduza avançar hoje que o Kremlin (Presidência russa) não está satisfeito com a recusa do líder comunista, Guennadi Ziuganov, em participar nas eleições.
Os comunistas e outras fações na Duma representam apenas uma oposição simbólica e geralmente apoiam as propostas de Putin.
Ainda assim, o partido Iniciativa Cívica -- que não está representado na Duma -- apoiou a nomeação do candidato independente Boris Nadezhdin, que se pronunciou contra as ações da Rússia na Ucrânia, mas ainda não conseguiu recolher assinaturas suficientes para se qualificar para a corrida, condição para a qual Yekaterina Duntsova pediu ajuda aos seus apoiantes.
Putin concorre como independente e a sua equipa de campanha, juntamente com ramos do partido governante Rússia Unida e uma coligação política chamada Frente Popular, começaram a recolher assinaturas de apoio à sua candidatura.
Segundo a lei russa, os candidatos independentes devem ser nomeados por pelo menos 500 apoiantes e têm de reunir pelo menos 300 mil assinaturas de 40 regiões ou mais.
A gestão política de Putin, de 71 anos, é, segundo sondagens oficiais, aprovada por 80% dos russos, sendo esperado que vença as eleições com mais votos do que em 2018, quando conquistou mais de 76% dos eleitores.