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Análise

‘Trago-vos uma grande notícia’

As histórias que valem a pena ser contadas e que dão esperança têm mercado

Estas linhas em véspera de festa podiam bem servir para zurzir em todos quantos brincam em serviço, na maior parte dos casos com coisas sérias e com dinheiros públicos. Podiam ser aproveitadas para ridicularizar os que nem sabem exercer ‘direitos de respostas’ nem aproveitar os espaços que livremente concedemos para que possam exercitar a liberdade de expressão e os dotes literários. Podiam servir para pôr no sítio os que devem à urbanidade, à boa educação e à empatia. Podiam dar jeito para avivar a memória dos que se deixam seduzir pelos convites generosos, mas se esquecem de cumprir regras, agir conforme a lei e ter um pacto com a verdade. Podiam dar azo a dissertações sobre a causa de todos os males de um sociedade excessivamente consumista, e também por isso nem sempre atenta aos sinais dos tempos, nem focada naquilo que é urgente em cada momento. Podiam alimentar polémicas sobre os conflitos de interesses e despertar consciências para a necessidade de levar a sério as incompatibilidades, num contexto em que ter ‘costas largas’ é uma espécie de visto para o pântano onde impera a suspeita mesmo que escrutinado.

Hoje é dia e noite de incentivar outras boas notícias. Não que seja próximo dos anjos que nesta noite de consoada anunciarão com cantorias que o tempo não cala o nascimento do Deus Menino. Não que tenha qualquer afinidade com os movimentos defensores do ‘infotainment’ como se o relato cruel das realidades não fosse em si mesmo um acto de bondade infinita. Não que tenha qualquer predilecção pelo romantismo informativo, sobretudo quando a prosa ensaiada visa anestesiar, fingir ou tingir. Apetece-me contrariar a tendência instalada que não pode haver tréguas quando a guerra exige vigor, que o diálogo é dispensável quando a propensão para ruptura impera, que o protesto é elementar mesmo que nada resolva.

Nem todos percebem que há um tempo certo para cada luta e que por muito hipócritas que possam ser os desejos de boas festas com saúde, paz e amor, com sininhos e neve digital à mistura, envolvem um princípio louvável e uma generosidade que importa transpor para os dias em que ninguém partilha mensagens, não presta atenção ao próximo, não esboça um sorriso, não oferece prendas e não revela a autenticidade.

Fazem-nos falta histórias inspiradoras, de superação e de esperança. Há mais mundo para além do ódio cultivado nas redes e patrocinado pela baixa política. Há mais gente do que aquela que se julga importante, intocável e iluminada. Há mais vida sem ser na placa central das vaidades ou em redor da mesa farta. A assinante do DIÁRIO que comemorou, ontem, um século de vida, é o melhor exemplo de vitória sobre o ridículo. Lembra-se que chorou para que a deixassem aprender a ler, num tempo em que apenas dois filhos de cada família podiam ir à escola. Hoje fazem-nos chorar aqueles que em pleno século onde até já há inteligência artificial ainda tratam os seus semelhantes como se não tivessem inteligência e competência, engenho e coração. Mesmo assim, que nada lhes falte neste Natal.