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2024: Ano de combater os populismos

O final do ano aproxima-se e, como é habitual, fazem-se balanços e perspetiva-se o futuro. Por um lado, olhamos ao que foi feito e ao que ficou por fazer, por outro, colocamos no horizonte novas metas e novos objetivos. Qualquer que seja o prisma pelo qual observamos ou a situação específica em que nos encontramos, este é um exercício quase inevitável.

Mas para que o façamos em verdadeira consciência, é absolutamente fundamental basearmo-nos em argumentos válidos. Não nos deixarmos enredar em falsas retóricas, em meias verdades ou em histórias propositadamente incompletas. E isto acontece também na política, muitas vezes com maior frequência do que noutras dimensões.

O aproveitamento de fragilidades várias, muitas delas decorrentes de pouca informação, mas também de fraco interesse, leva ao crescimento de fenómenos populistas. Engane-se quem pensa que o populismo, seja na forma tentada ou mesmo com relativo sucesso, é um exclusivo de partidos novos ou mais pequenos. Muito pelo contrário.

Ao longo deste ano que agora termina, tivemos vários exemplos disso, aqui mesmo, na Madeira. Numa Região supostamente pioneira, próspera e desenvolvida, mas onde os índices de pobreza e exclusão social deviam envergonhar os governantes. Onde se autoelogiam os apoios sociais, quando estes apenas revelam a incapacidade de implementar soluções para as pessoas. Seja ao nível de aumento de rendimentos, seja na habitação, seja no acesso à saúde. Ouvir falar da maior taxa de cobertura de habitação social do país, revela acima de tudo, que ao fim de quase 50 anos não se criaram condições para que os madeirenses pudessem ter a sua própria casa. Olhar para a duplicação das listas de espera na saúde, ocorrida desde 2015, é também revelador de um mundo real, onde as desigualdades não só existem, como aumentam.

O populismo de quem usa a propaganda e a repetição de mensagens falsas às pessoas, é uma arma política muito utilizada por quem cá nos governa. Ao longo da última semana, duas situações demonstram isto mesmo.

A discussão na Assembleia Legislativa da Madeira em torno do aumento do complemento regional para idosos, medida essencial para dar dignidade a quem vive com reformas muito baixas, levou o PSD a falar em “anseios eleitoralistas” e dizer que o “problema da pobreza não se resolve com a atribuição de cheques”. Não deixa de ser curioso que este complemento, há muito defendido pela oposição, apenas tenha sido atribuído em vésperas de eleições autárquicas em 2021, pelos mesmos que promovem a entrega de cheques às bordadeiras ou a vinculação extraordinária de professores apenas em anos de eleições, como aconteceu em 2023.

Pelo meio, ainda se ouviu o argumento de que o complemento não era a solução, dado que o problema estava na República e tinha origem nas baixas reformas e pensões. Nunca é de mais recordar que as pensões tiveram uma atualização média superior a 23%, desde 2015, pela mão dos Governos liderados pelo PS.

Valha-nos o assumir involuntário por parte da bancada do PSD, de que o problema da pobreza existe, quando se reconhece que o número de beneficiários disparou 88%, de 1.319 idosos beneficiários em 2021 para 2.487 em 2023.

Mas ouvimos também esta semana que o salário mínimo regional subirá para 850 euros em 2024, o que corresponde a mais 30 euros do que o salário mínimo nacional fixado em 820 euros. E diz novamente o Governo Regional que desde 2015, o salário mínimo regional subiu mais de 50%. O problema é novamente o populismo, assente em meia verdade ou numa história incompleta. O salário mínimo nacional subiu de 505 euros em 2015 para 820 euros em 2024, um aumento de 315 euros, superior a 62%. Em 2015, o Governo Regional da Madeira dava um acréscimo de 10 euros, sendo o salário mínimo regional à data de 515 euros. É verdade que o salário mínimo regional aumentou, mas não foi por via dos acréscimos atribuídos pelo Governo Regional do PSD, mas sim em resultado de uma política de valorização salarial do Governo da República do PS desde 2015.

Havendo verdade e seriedade, podemos fazer todos os balanços e perspetivar aquilo que podemos concretizar em 2024, num ano que será extremamente importante para Portugal e para a nossa Região Autónoma da Madeira!

Votos de um Santo Natal e um Feliz 2024 a todas e a todos!