Conselho de Segurança da ONU aprova resolução exigindo ajuda humanitária a Gaza
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou hoje, após uma semana de intensas negociações e de adiamentos sucessivos, uma resolução exigindo o envio para a Faixa de Gaza de ajuda humanitária "em grande escala".
A resolução, com caráter jurídico vinculativo e apresentada pelos Emirados Árabes Unidos (EAU), teve de ser reescrita várias vezes ao longo da semana devido a objeções dos Estados Unidos, que têm poder de veto no organismo e que o exerceram em anteriores votações.
Hoje Washington absteve-se, assim como a Rússia (também com poder de veto), permitindo a passagem com 13 votos favoráveis da resolução, que ao contrário das primeiras versões não apela a um cessar-fogo imediato.
O texto pede ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que designe um coordenador especial para monitorizar e verificar o envio de ajuda humanitária ao enclave palestiniano, alvo de constantes bombardeamentos desde o início da guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, a 07 de outubro.
A resolução "exige de todas as partes que autorizem e facilitem o encaminhamento imediato, seguro e sem entraves de uma ajuda humanitária em grande escala" para Gaza e pede que sejam "tomadas medidas urgentes" a este respeito e para "criar as condições de um cessar duradouro das hostilidades".
O texto também exige a utilização de "todas as vias de acesso e de tráfego disponíveis em toda a Faixa de Gaza" para o encaminhamento de combustível, alimentos e equipamentos médicos em todo o território.
"Sabemos que este não é um texto perfeito, sabemos que apenas um cessar-fogo acabará com o sofrimento", comentou a embaixadora dos EAU junto da ONU, Lana Zaki Nusseibeh, citada pela AFP.
Mas "se não tomarmos medidas drásticas, haverá uma fome em Gaza", e este texto "responde através de ações à situação humanitária desesperada do povo palestiniano", acrescentou a diplomata antes da votação na sede da ONU em Nova Iorque.
A referência a uma "cessação urgente e duradoura das hostilidades", presente no primeiro texto, desapareceu, tal como o pedido menos direto, na versão seguinte, de uma "suspensão urgente das hostilidades".
"Trabalhámos árdua e diligentemente esta semana com os EAU, com outros, com o Egito, para chegar a uma resolução que possamos apoiar", disse a embaixadora norte-americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, na quinta-feira à noite.
"O projeto de resolução não foi enfraquecido. O projeto de resolução é muito forte, totalmente apoiado pelo bloco árabe", afirmou, acrescentando que "a ajuda humanitária será entregue aos que dela necessitam".
O Conselho de Segurança tem sido muito criticado pela inação desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, enquanto a ONU alertou nos últimos dias para a insegurança alimentar "sem precedentes" dos habitantes de Gaza, agora ameaçados pela fome.
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, o Conselho de Segurança só conseguiu quebrar o silêncio uma vez, com a resolução de 15 de novembro na qual pedia "pausas humanitárias". Em dois meses, rejeitou cinco outros textos, dois dos quais foram vetados pelos Estados Unidos, incluindo o último, a 08 de dezembro.
Nessa altura, apesar da pressão do secretário-geral da ONU, António Guterres, os Estados Unidos bloquearam o apelo para um "cessar-fogo humanitário", também considerado inaceitável por Israel.
Face ao bloqueio do Conselho, a Assembleia-Geral da ONU aprovou a 12 de dezembro uma resolução exigindo um cessar-fogo imediato em Gaza, mas que não tem caráter jurídico vinculativo.
O Governo do Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007, anunciou na quarta-feira que as operações militares israelitas fizeram 20 mil mortos no enclave desde o início da guerra, a 07 de outubro, contabilizando também 52.600 feridos.
Israel declarou guerra ao Hamas, em retaliação ao ataque de 07 de outubro perpetrado pelo grupo em território israelita, que fez 1.139 mortos, na maioria civis, de acordo com o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Cerca de 250 pessoas foram também sequestradas nesse dia e levadas para Gaza, 128 das quais se encontram ainda em cativeiro pelo movimento, considerado uma organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por Israel.