Criar (o) futuro (XXVI) 2024, o ano da esperança
2024 tem de ser o ano da esperança feita realidade, dos portugueses serem “tudo” e não um “grande povo de heróis adiados”, nas palavras do poeta Fernando Pessoa.
Neste mundo ainda tão desigual, temos de persistir na esperança, associada à solidariedade, em prol de um futuro melhor para todos.
Não pode sair da agenda política o valor fundamental da solidariedade, combatendo as desigualdades, e fazendo com que o Dia Internacional da Solidariedade Humana, comemorado no passado dia 20 de dezembro, não seja um dia em vão. Temos de conseguir prolongar o espírito solidário desta época de Natal a todo o ano, sempre com a firme convicção que ajudar os mais vulneráveis eleva-nos a todos, renova a esperança e reafirma a nossa humanidade.
Vivemos tempos turbulentos, mas dos quais podem resultar oportunidades e avanços civilizacionais. Não há milagres, temos de conquistar as oportunidades que surgem nos
processos de convulsão política e social. Para tal, é preciso coragem política para apresentar medidas concretas que sejam determinantes para o sucesso e sustentabilidade das políticas públicas, com resultados sólidos na qualidade de vida dos cidadãos.
É preciso priorizar consensos nas áreas vitais para o crescimento sustentado de Portugal e da nossa Região. E para este desiderato, é premente preparar o day after em termos partidários e políticos. Neste campo, partilho uma afirmação do historiador inglês Simon Sebag Montefiore: “O problema de todos os sistemas é a preparação de herdeiros. Perceber quando e como entregar o poder. Os políticos, os reis, os líderes são terrivelmente maus nisso. Nunca encontram sucessores satisfatórios. Ou tão bons como eles se consideram”.
Numa época caraterizada pela incerteza e fragilidade, em que se vive uma desconstrução da própria sociedade, há que ter um planeamento feito de foco e estratégia, de forma a contribuir para um panorama social, económico e político mais vantajoso e feliz.
Abre-se perante nós a possibilidade de um futuro empolgante, com grande influência da inteligência artificial e com avanços tecnológicos surpreendentes, de que é exemplo o recente anúncio da empresa de biotecnologia Neuralink de que já começaram os ensaios clínicos para o implante de um chip no cérebro humano. Embora seja notória a necessidade de muitos humanos terem um novo cérebro ou um cérebro com upgrade, não deixa de ser algo assustadora a velocidade vertiginosa da evolução da tecnologia.
Contudo, apesar do grande impacto das novas tecnologias, nunca podemos esquecer que serão sempre as pessoas a marcar a diferença. E por isso, é fundamental olhar para e pelas pessoas, escutá-las, trazer os seus anseios e sonhos para o centro da ação política.
Mesmo sem dotes no campo da futurologia, não é difícil prever que, no próximo ano, alguns cenários continuarão a existir, nomeadamente, no campo geopolítico, a guerra na Ucrânia e o conflito Israel-Hamas. Em termos económicos, embora com sinais animadores, ainda vamos começar o ano com indicadores preocupantes em termos de inflação e taxas de juros. Continua a pressão sobre a classe média, persistem problemas sociais e ao nível da Saúde, retrocessos em termos de Educação. Questões que urge resolver a contento, pois, persistindo no tempo, podem criar uma “tempestade perfeita”, com consequências devastadoras para o nosso progresso e bem-estar.
Face a estes desafios, num mundo cada vez mais competitivo e exigente, não podemos ficar de braços cruzados, é preciso passar à ação. Com a certeza que todos contam, e que ninguém deve ficar alheado da realidade onde vive. É preciso que cada um contribua com o seu quinhão para que, todos juntos, consigamos construir um presente e futuro com esperança para todos.
Termino, desejando Festas Felizes, com um poema do Cardeal D. José Tolentino Mendonça, recentemente galardoado com o Prémio Pessoa 2023:
“O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro de cada idade e estação
Dentro de cada encontro e de cada perda
Dentro do que cresce e do que se derruba
Dentro da pedra e do voo
Dentro do que em nós atravessa a água ou atravessa o fogo
Dentro da viagem e do caminho que sem saída parece”.