Costa diz-se disponível para Marcelo e promete que não imitará outros ex-primeiros-ministros
O primeiro-ministro afirmou hoje que estará disponível para o Presidente da República depois de abandonar funções, falando por telefone ou pessoalmente, e prometeu que não irá imitar o comportamento de alguns dos seus antecessores no cargo.
António Costa falava na sessão de cumprimentos de Natal ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém -- o oitavo e último ato em que participou como primeiro-ministro, já que se demitiu destas funções em 07 de novembro passado.
"Eu, como ex-primeiro-ministro, não imitarei aqueles que também não imitei como primeiro-ministro. Poderá sempre contar com toda a minha disponibilidade, ou por telefone, ou pessoalmente, para acrescentar um suplemento de otimismo quando a fé não for suficiente", declarou o ainda líder do executivo, dirigindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa.
Ao longo dos últimos oito anos, António Costa disse que teve a possibilidade de conhecer "ainda melhor Portugal", razão pela qual, atualmente, está "mais confiante no futuro do país". "E verifiquei, com grande satisfação, que esse meu otimismo irritante foi passando a ser, se não contagiante, pelo menos cativante. Foi com grande satisfação que ouvi o Presidente da República lamentar [na terça-feira] a tendência de alguns para o pessimismo", justificou.
Perante o Presidente da República, o primeiro-ministro defendeu a tese de que, "com pessimismo, é muito difícil encarar com boa cara o mau tempo".
"Temos de dar sempre boa cara ao mau tempo, porque o mau tempo não se evita, embora às vezes se possa prevenir. E quando o mau tempo surge temos de estar com boa cara", insistiu António Costa, defendendo, depois, a necessidade de uma atitude de "confiança nos outros e na capacidade do país".
Neste contexto, falou de diferenças de personalidade entre si e o chefe de Estado.
"Entre nós, temos uma diferença profunda e que não conseguimos ultrapassar. O Presidente da República bem se esforçou, mas não conseguiu conquistar-me para o privilégio da fé. E quem não tem o privilégio da fé tem mesmo de ter uma dose suplementar de confiança para enfrentar as desventuras", considerou.
A terminar, António Costa deixou votos de felicidades a Marcelo Rebelo de Sousa para o que falta para cumprir em relação ao seu segundo mandato, dando aqui especial destaque à forma como o chefe de Estado cumpriu o seu primeiro mandato, entre 2016 e 2021.
"Que haja muitas venturas e poucas desventuras e que o seu mandato continue a correr até ao fim da forma como os portugueses tão bem apreciaram no seu primeiro mandato", declarou. Após um intervalo de alguns segundos acrescentou, dizendo que os portugueses "têm bem apreciado neste segundo mandato".
No fim da sessão, o Presidente da República cumprimentou um a um todos os ministros do Governo de António Costa. Estiveram todos no Palácio de Belém.
Marcelo Rebelo de Sousa começou por António Costa, dando-lhe sonoras palmadas nas costas e assinalando que o líder do executivo "tem saúde para dar e vender".
Quando passou pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, o chefe de Estado deu um aperto de mão prolongado, comentando que o Orçamento para 2024 "é uma garantia interna e externa. A seguir, com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, fez uma alusão indireta ao facto de ele ter sido candidato (derrotado) à liderança do PS, observando: "Tenho-o visto muito na televisão".
Já com o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, Marcelo Rebelo de Sousa deu um aperto de mão ao estilo do ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais vigoroso, e trocou algumas palavras com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que motivaram um esclarecimento por parte da titular da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
O Presidente da República disse a Manuel Pizarro que já tinha promulgado o novo estatuto dos médicos, mas o ministro da Saúde disse-lhe que não.
Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se surpreendido com a resposta do ministro, Mariana Vieira da Silva ouviu e informou que esse diploma, na realidade, tal como o chefe de Estado dissera, já está mesmo promulgado.
Antes das despedidas, o Presidente da República tirou uma fotografia de família com o Governo, posicionando-se bem ao centro. António Costa comentou então: "Acho que nestes anos tem vindo da direita para a esquerda".
Marcelo Rebelo de Sousa reagiu imediatamente, usando também o humor: "Não diga isso senhor primeiro-ministro".