Que a melhor mensagem de Natal saia do nosso coração
Saudade. Sinto essa saudade que ora me faz rir, ora me faz chorar ou que aparece simplesmente para me fazer companhia. É a saudade de alguém que não volta mais, de lugares que já só existem na minha memória, de cheiros, de gostos, de coisas tão pequeninas como a lembrança do brinquedo no sapatinho, pela altura do Natal, dado pelo Menino Jesus. Esta saudade fala-me tanto do que foi bom, mas também me relembra o que ainda dói tanto. Quando olho as fotos mais antigas aos meus olhos acorrem lágrimas silenciosas que teimosamente molham meu rosto.
Estas lembranças, embora dolorosas são sinal de que vivi algo que valeu a pena, sinal de que no meu coração permanece o amor que o tempo não apagou. O amor pelas pessoas, pelos lugares e pelas coisas, por mais insignificantes que tivessem sido. Posso dizer com todas as letras, que fui privilegiada por me terem ensinado a valorizar o que não tem preço.
Vejo-me agora perante uma realidade que me assusta, não tanto por mim que já levo vida longa, mas por aqueles que ficarão depois de mim se, entretanto, a Humanidade não sofrer uma grande transformação. O amor cedeu lugar à indiferença ou até ao ódio; alimenta-se a guerra e despreza-se a paz, banaliza-se a mentira e ignora-se a verdade, a empatia tomou um rumo de destino sem volta e a amizade, a solidariedade seguiram-lhe os passos (voltam uns dias em Dezembro)...
Nesta época festiva sobrevaloriza-se o acessório em detrimento do essencial - o verdadeiro sentido do Natal. Há uma corrida desenfreada aos locais de consumo para que não faltem as prendas, as iguarias e os brilhos nas casas de cada um. Muitos, porém, talvez ao nosso lado, não terão alegria, nem pão, nem abrigo nem prendas no sapatinho pois, se calhar, nem sapatos têm. Há, em compensação, muita falta de afectos, muita falta de sorrisos sinceros, muita falta de braços que abracem, muita falta de mãos que doem...
“Vai ser Natal outra vez”!!! Mas será (verdadeiro) Natal para quem sofre com falta de cuidados?
Será (verdadeiro) Natal para quem se sente só, mesmo se acompanhado?
Será (”) Natal para quem padece de fome e de frio?
Será (”) Natal para quem o presépio é um monte de ruínas ou escombros?
Será (”) Natal para quem ignora o outro todo o ano e só o reconhece nesta época?
Será (”) Natal para os irmãos que estão de costas voltadas?
Será (”) Natal para os filhos que abandonam os pais?
Será (”) Natal para os pais que exasperam os filhos?
Não seremos demasiado hipócritas?
Que do nosso coração saia a melhor mensagem de Natal. Que o que se diz não sejam só palavras de circunstância.
Que seja bom e verdadeiro o nosso Natal!
Madalena Castro