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Fact Check Madeira

Será o ‘défice democrático’ um tema politicamente esgotado na Madeira?

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Paulo Cafôfo, na intervenção que realizou no jantar de Natal do PS-Madeira, estabeleceu caminhos políticos e referiu-se à herança do governação do PSD na Região. Discordando das palavras do presidente eleito do PS-Madeira, um leitor do DIÁRIO, num comentário à notícia, diz que o tema ‘défice democrático’ está esgotado e que até o PS Nacional já desistiu dessa teoria. Estará mesmo politicamente esgotado o tema ‘défice democrático’?

Umas das formas de verificarmos se o tema défice democrático na Madeira ainda dinamiza a vida política e os madeirenses é tentar perceber quando e quem tem usado a expressão nos últimos anos. Para isso, recorremos a notícias publicadas, em que a expressão é usada. Mas, vamos às origens.

A expressão défice democrático aplicada à realidade política na Madeira remonta a 1991 e é da autoria de Mário Soares. Mas foi com António Guterres, na liderança do PS, que o tema ganhou dimensão. Já nessa altura, início de 1992, Alberto João Jardim disse que António Guterres era “um tonto”.

O então presidente do Governo Regional nunca perdoou essa posição de António Guterres, como fica clarão em textos de opinião recentes publicados no JM, em 2022 e em 2023.

A 7 de Janeiro de 2022, num, texto intitulado ‘Decidir é só e apenas com cada consciência’ Jardim diz: “Guterres (…) com duas mentiras: A mentira injuriosa do ‘défice democrático’ (até o Dr. Álvaro Cunhal lembrou que o ‘défice democrático’ também era lá!...) …”.

Já a 6 de Julho de 2023, noutro texto de opinião, desta feita, intitulado ‘O desastre socialista’, Jardim escreveu: “Nos últimos 28 anos, os socialistas governaram 21. A coligação PSD/CDS, com Durão Barroso, esteve entre 2002 e 2004 e foi para resolver o primeiro procedimento por défice excessivo da História da UE, levantado ao Governo Guterres – o tal da vigarice insultuosa ‘défice democrático’ e ‘premiado’ com lugar inócuo e despesista na ONU”.

Mas nem só o PS ou Alberto João Jardim têm falado de défice democrático, nos últimos anos.

Também em 2023, a 25 de Abril, o Chega veio falar sobre a situação política na Madeira e disse existir um “profundo défice democrático”.

A 2 de Junho, também deste ano, Nuno Morna, a propósito do anúncio de que seria cabeça-de-lista do Iniciativa Liberal nas eleições regionais, a propósito do chumbo, na ALM, de uma proposta sobre o voto em mobilidade, concluía: “Uma proposta que foi chumbada esta semana na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira pela maioria PSD/CDS-PP, partidos que continuam a ser os principais responsáveis pelo défice democrático que se vive no arquipélago.”

Também o JPP tem afirmado a existência de um défice democrático na Região. Em 2020, pela mão de Élvio Sousa, o partido escreveu ao Presidente da República a alertar para a situação política de défice democrático na Madeira. A acusação viria a ser feita de viva voz, mais tarde (19 de Novembro) na ALM, perante Miguel Albuquerque.

Antes, em 2017, oito partidos da oposição, incluindo o CDS, fizeram um ‘pacto da oposição’, que pretendia exactamente acabar com o défice democrático na Madeira.

Muitos outros casos, relativamente recentes, existem de utilização do tema ‘défice democrático’. No entanto, o ponto alto foi na década de 90, mas também com expressão na primeira metade dos anos 2000.

Apesar disso, como se demonstrou, é falso afirmar que o tema ‘défice democrático’ esteja esgotado na política madeirense.

O tema 'défice democrático' está esgotado na Madeira - Leitor do DIÁRIO