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Análise

Haverá esperança?

Nesta pré-campanha frenética não vislumbramos ainda uma discussão séria à volta da autonomia

Vamos entrar no novo ano a sermos bombardeados por uma campanha eleitoral extemporânea e pouco esclarecedora, mas as eleições legislativas de 10 de Março dizem muito à Madeira. Ocorrem exactamente no ano em que se comemora o 50.º aniversário do 25 de Abril e num momento em que a Autonomia precisa também de ser refundada, de vestir um fato novo. Pelo que temos visto até agora, o tema não faz parte do léxico dos principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro. Somos uma pequena minoria no todo nacional, mas temos especificidades próprias que não podem ser esquecidas. Não nos interessa generalidades inconsequentes e que apenas servem para a tradicional volta de campanha eleitoral protagonizada pelos chefes partidários nas ruas do Funchal. Importa saber, de forma cabal, o que defende cada um para as autonomias regionais, sobre o seu aprofundamento, sobre uma fiscalidade própria, sobre a transferência de verbas equitativas e justas por parte do Estado, bem como a garantia de que a continuidade territorial, premissa constitucional que não é de todo observada, deixa de ser reduzida à famigerada questão do ferry entre a Madeira e o continente. Há outras formas de mitigar distâncias e promover a mobilidade entre o todo nacional, como o desconto imediato do subsídio público de transporte aéreo. As nomenclaturas nacionais dos partidos não podem olhar para as ilhas apenas pelo prisma da contabilidade rasca do número de eleitores, nem as comparar a concelhos do continente com mais população. É preciso um olhar renovado, despido de preconceitos que já não fazem sentido, mas que continuam a imperar na cabeça de muitos.

Nesta pré-campanha frenética não vislumbramos ainda uma discussão séria à volta da autonomia e das especificidades regionais. Assistimos sim ao miserável folclore em torno dos nomes dos candidatos a deputados e das suas posições nas listas. Por cá, a coligação PSD/CDS escolheu um autarca em funções, no seu último mandato é certo, mas em funções para liderar a candidatura a S. Bento, emitindo um sinal de que não consegue mobilizar quadros capazes e ganhadores fora do aparelho. Que sinal emite o PSD ao eleitorado? O de um partido acantonado que funciona em primeiro lugar em torno da lógica partidária e de satisfação da clientela interna. Os sinais transmitidos pelos eleitores nas últimas Regionais – nas tais em que a coligação ganhou em 52 das 54 freguesias, mas que ainda assim não foi suficiente para alcançar a maioria absoluta – não foram absorvidos pelo principal partido da Região, que quer despachar para a República um dos potenciais candidatos à sucessão de Albuquerque.

E é nisto que os partidos fundadores do sistema falham sistematicamente. Têm pavor à renovação e de assumir novos protagonistas. Paula Margarido – que há apenas um ano disse ao JM que era condenável servir-se da Ordem (dos Advogados) para dar o salto político – é a única cara nova nos lugares cimeiros. Será suficiente para consubstanciar uma nova aragem e uma nova esperança à política regional? Ou foi convocada para tentar rentabilizar o eleitorado católico?

Junta-se à ‘festa’ Filipe Sousa, pelo JPP. O autarca de Santa Cruz pode também não honrar o compromisso com o eleitorado do seu concelho e abandonar mais cedo a presidência da Câmara, caso seja eleito. Ou não será esta uma forma airosa de esvaziar a trapalhada na escolha dos candidatos nas últimas Regionais, que abriu fendas profundas nas estruturas internas do partido?

Passado meio século do 25 de Abril isto continua a funcionar em torno da mesma meia dúzia de amigos, como disse Jorge Sampaio.

Para devolver à sociedade confiança e esperança no futuro, há um longo caminho a percorrer, começando por acabar com as desigualdades e a “discriminação territorial”, como alertou a presidente da SEDES Madeira, na entrevista concedida ao DIÁRIO a 12 de Dezembro.