Uma manifestação e o teleférico

A manifestação contra o teleférico do Curral das Freiras, na Eira do Serrado, é o exemplo de como, infelizmente, o Ambiente, é usado para se fazer política. Nem é preciso uma observação muito atenta para ver nessa manifestação, sem quaisquer pudores, elementos destacados da CDU e do Bloco de Esquerda, inclusive os seus líderes regionais.

E quem diz nesta manifestação, pode-se falar de várias e várias manifestações, organizadas por sindicatos ou por alguns movimentos que se dizem cívicos, mas que da sociedade pouco emergem, sendo apenas “braços armados” de partidos. A “receita” é sempre a mesma: dirigentes de partidos, misturados com militantes desses mesmos partidos. O objetivo e claro: aproveitar as causas ambientais para fazer política, procurando beneficiar do sucesso dessas mesmas iniciativas ambientais.

Logicamente, há movimentos genuínos, saídos do povo, da sociedade civil. Mas, estes são infelizmente poucos, sobretudo quando acabam por ser engolidos pelos partidos.

Mas, se formos mais além desta primeira observação e reparamos mais atentamente, surge-nos logo uma questão: quantas pessoas do Curral das Freiras, da freguesia, estavam naquela manifestação? Eu respondo: salvo alguma(s) pessoa(s) que não tenha(m) sido captada(s) pelas câmaras, estavam apenas uma ou duas.

Como é que, então, essas pessoas que, sublinhe-se, não são do Curral, falam em nome de quem lá vive, de quem lá trabalha e que olha para o teleférico como uma boa oportunidade para ter uma vida melhor?

As pessoas do Curral, essas, não hajam dúvidas – e para quem as tem bastaria ter ido ao encontro promovido pelo PAN, em que estiveram presentes várias pessoas, mas curiosamente nenhum dos ditos defensores do Curral que apareceram nesta recente manifestação – estão a favor do teleférico. E foi por isso que não foram à manifestação. Não por receio, como também se disse.

Assim como também não se entende (ou melhor, até se entende, se olharmos para a questão de forma política e atentarmos ao método usado pela generalidade dos partidos da Oposição, em que a mentira e a insistência na mentira é a bitola frequente) a insistência em falar em concurso ilegal. Concurso ilegal?! Um concurso internacional, escrutinado por tanta e tanta gente, ilegal?!

Não, meus senhores, o concurso foi legal! Não, meus senhores, o projeto ressalvou as questões ambientais que foram sendo apontadas ao longo do demorado processo. Não, meus senhores, o teleférico não vai afetar a freguesia, até por ser um meio de transporte utilizado em toda a Europa, nas zonas ambientais protegidas, precisamente pela sua pouca ou nenhuma carga ambiental. Não, meus senhores, o concurso foi já aprovado e todas as peças do mesmo, todo o processo está disponível para quem o quiser consultar.

Ninguém o escondeu, ninguém se furtou a disponibilizar documentos, dentro do que a legislação prevê. Só não os consultou quem não quis…. Aliás, ainda os pode consultar!

Em democracia, admite-se opiniões contrárias, aceita-se que haja pessoas que não gostem do teleférico. Mas, que usem argumentos claros, científicos e honestos. Não recorram à demagogia. Não sejam advogados de quem não os nomeou e nem os quer. Não se armem em defensores da população, quando essa mesma população tem, na sua grandíssima maioria, uma opinião diferente.

Assim, talvez uma próxima manifestação – das tais que são promovidas por movimentos cívicos (uns que camuflam partidos, outros verdadeiros) – tenha mais gente. Porque fazer-se manifestação como estas só afastam, só desmobilizam. Não venham, depois, dizer que os madeirenses e porto-santenses têm medo de protestar. Não, os madeirenses e porto-santenses não têm medo. Nunca tiveram, como a história o diz. Mas, não são parvos e não estão para servir interesses escondidos e para aderir a causas que não consideram como justas e com origens transparentes.

Ângelo Silva