ONU alerta para situação humanitária "extremamente preocupante" na África Central
As Nações Unidas (ONU) alertaram hoje para a situação humanitária "extremamente preocupante" na África Central, sub-região onde a organização estima que mais de 2,6 milhões de pessoas estejam deslocadas internamente e mais de 1,5 milhões em insegurança alimentar.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, o representante especial das Nações Unidas para a África Central, Abdou Abarry, indicou ainda que mais de 42 milhões de pessoas necessitavam de assistência humanitária em outubro, em consequência das atividades de grupos armados ou terroristas, de conflitos intercomunitários ou de crises ambientais.
Sublinhando que os recursos para ajudar essas populações são cada vez mais escassos, Abarry apontou que as crianças são as mais afetadas por estas diferentes crises.
Apresentando ao Conselho o relatório semestral sobre o Escritório Regional da ONU para a África Central (Unoca), Abarry disse que, durante o período em análise, grupos armados não estatais e grupos terroristas "continuaram os seus abusos através de homicídios, tomada de reféns e destruição de infraestruturas".
"Só nos últimos dois meses, os Camarões foram vítimas de pelo menos três ataques perpetrados por grupos separatistas armados que deixaram dezenas de mortos nas regiões noroeste e sudoeste. Estes grupos continuam a atacar populações civis, professores, pessoal médico e hospitais, e chegam ao ponto de impor recolher obrigatório que restringe o acesso às escolas, destruindo-as ou fechando-as", denunciou, expondo também a crise no Sudão, com impacto direto no Chade e na República Centro-Africana.
Também a segurança marítima contínua a ser um tema de grande preocupação para a África Central, tendo registado "quatro incidentes, incluindo uma tomada de reféns" durante o período do relatório, e com Abdou Abarry a pedir especial empenho em relação à segurança e proteção do Golfo da Guiné.
Já em São Tomé e Príncipe, país que visitou em novembro, o representante da ONU destacou o apoio da Unoca às autoridades nacionais na reforma dos setores da justiça e da segurança, e saudou a intenção do Governo de criar uma comissão nacional independente para os Direitos Humanos, com o apoio das Nações Unidas.
Ao Conselho de Segurança, Abdou Abarry anunciou que, no âmbito da implementação do Acordo Político para a Paz e Reconciliação na República Centro-Africana e do Roteiro de Luanda, centenas de ex-combatentes centro-africanos estão desmobilizados e em processo de reintegração nas diversas componentes das forças de defesa e segurança.
"Isto soma-se aos 70 combatentes do Exército de Resistência do Senhor (LRA) que se desmobilizaram voluntariamente, alguns dos quais já foram repatriados para o Uganda, graças ao apoio das Nações Unidas. Estas desmobilizações poderiam ajudar a reduzir significativamente a violência armada em certas regiões da República Centro-Africana", observou.
Tal como na reunião anterior, em junho passado, Abarry voltou hoje a saudar o Presidente angolano, João Lourenço, pelos "seus esforços contínuos para o regresso da paz e da estabilidade no leste da República Democrática do Congo".