Sem medos
Ao convocar eleições, Marcelo Rebelo de Sousa fez o óbvio e revelou coerência. Marcá-las para 10 de Março é simpatia em relação aos que precisam de arrumar a casa
Boa noite!
O Presidente da República fez o óbvio. Num governo desprovido de Costa, com perigosas suspeitas em larga escala e investigações judiciais em curso, não haveria outra alternativa compreensível que não a de convocar eleições.
Têm pois a palavra os portugueses que serão chamados a definir a futura composição da Assembleia da República, “sem dramatizações, nem temores”, da qual brotará um futuro executivo. Nada melhor do que pôr a democracia a funcionar, mesmo correndo sérios riscos em pleno 50.º aniversário do 25 de Abril. E o maior é permitir que os extremismos que atentam contra direitos, liberdades e garantias tomem conta da equação.
Marcelo Rebelo de Sousa foi coerente. Desde a primeira hora, logo na tomada de posse, que deixou claro que não aceitaria ficar ligado a um governo PS sem Costa, na altura dado como provável na Comissão Europeia, mas hoje sem tempo para sonhos. Não admira que tenha recusado a proposta socialista de indigitar um novo primeiro-ministro, - Costa propôs Mário Centeno - evitando assim entrar na briga interna do PS.
O Presidente da República foi amigo dos que, em vários quadrantes políticos, precisam de tempo para ganhar fôlego. Os socialistas terão que ir para congresso e escolher nova liderança. Os social-democratas terão sobretudo que ganhar coragem e vontade em ter propostas efectivas para o País. Mas marcar eleições para 10 de Março é de muito mau gosto. No poder, mesmo que em gestão e sem Galamba, ficam demoradamente os que são suspeitos, logo, fragilizados politicamente e com credibilidade ferida, apesar de alguns, hipócritas incluídos, agitarem a presunção de inocência quando dá jeito.
Marcelo Rebelo de Sousa só dissolve a Assembleia após a aprovação do Orçamento do Estado que já foi votado na generalidade na Assembleia da República e que, alegadamente, está em discussão na especialidade. Estará mesmo? Pela contestação dominante em diversos sectores da sociedade não parece, mas o PRR a muito obriga. Aprove-se então o OE, mesmo que seja previsível um rectificativo antes do próximo Verão.
O Presidente da República está de olho na justiça. O recado é contundente: “Espero que o tempo, mais depressa do que devagar, permita esclarecer o sucedido, em nome da afirmação da justiça e do reforço o Estado de Direito democrático”. Resta saber se o chicote funciona no estado judicial.