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Hamas "nunca vai desaparecer"

Foto DR/XTwitter
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O jornalista palestiniano Zaki Chehab, autor de um livro sobre o Hamas, rejeita que Israel possa extinguir o movimento islamita e afirma que o povo está disposto a sofrer para alcançar um Estado independente.

O autor do livro "Por dentro do Hamas: A história desconhecida do movimento militante islâmico", publicado em 2007, reafirma o que escreveu há 16 anos.

"Eu disse na altura que, depois de tantas invasões de Israel em Gaza, o Hamas estava a ficar cada vez mais forte. O Hamas nunca vai desaparecer, e a paz vai ter de ser feita com os líderes palestinianos eleitos", afirmou, em entrevista à agência Lusa em Londres.

Chehab afirma que o movimento, que é classificado como terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos, faz parte da sociedade palestiniana, que se divide no apoio ao Hamas, à Fatah ou à Jihad Islâmica Palestiniana.

O Hamas foi fundado em 1987, durante a primeira intifada, marcada por protestos generalizados na Faixa de Gaza contra a ocupação de Israel.

Hamas é o acrónimo árabe para Movimento de Resistência Islâmica, uma referência aos laços iniciais com um dos grupos sunitas mais proeminentes do mundo, a Irmandade Muçulmana, fundada no Egito na década de 1920.

O grupo prometeu aniquilar Israel e foi responsável desde então por muitos atentados suicidas e outros ataques mortais contra civis e soldados israelitas, prejudicando os acordos de paz de Oslo assinados pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e pelo governo israelita em 1993 e 1994.

Os EUA designaram o Hamas como organização terrorista em 1997, o que foi replicado pela União Europeia e por outros países ocidentais.

O Hamas venceu as eleições parlamentares de 2006 e em 2007 tomou o controlo da Faixa de Gaza até então detido pela Autoridade Palestiniana, que administra áreas da Cisjordânia ocupada por Israel e é reconhecida internacionalmente, mas é dominada pelo movimento rival Fatah.

Israel respondeu à tomada do poder pelo Hamas com um bloqueio a Gaza, restringindo a circulação de pessoas e bens dentro e fora do território, arrasando a economia.

Zaki Chehab recorda à Lusa uma passagem do livro que escreveu, na qual revela que foram as autoridades israelitas a financiar o Hamas no início para enfraquecer a OLP.

"Israel deu aos fundadores do Hamas permissão para se estabelecerem, e o primeiro arsenal de armas foi dado pelos serviços secretos israelitas", sustenta.

Ao longo dos anos, o Hamas recebeu apoio de países árabes e muçulmanos, como o Qatar e a Turquia, mas recentemente, aproximou-se do Irão e respetivos aliados, continuando o rearmamento.

Foi graças a este apoio que têm continuado o lançamento de 'rockets' para Israel ao longo de décadas e que conseguiu preparar-se para os ataques de 07 de outubro, que resultaram em 1.400 mortos, na maioria civis, e cerca de 5.000 feridos, além dos mais de 200 reféns.

Chehab nasceu em 1956 num campo de refugiados no sul do Líbano e vive em Londres há cerca de 40 anos, onde tem trabalhado para vários meios de comunicação britânicos e árabes cobrindo guerras na região.

Em contacto com outros repórteres na Palestina através do telemóvel, Chehab mostrou à Lusa vídeos no terreno de guerrilheiros a combater as forças israelitas e de equipamento material destruído.

"O Hamas não vai aparecer com bandeiras brancas, não esperem vê-los de joelhos", avisou.

Apesar da devastação, a população de Gaza também não desmoralizou porque os palestinianos "já estão habituados" a centenas de mortes cada vez que Israel ataca território, aumentando o ressentimento.

"Nenhum palestiniano se queixou desta guerra. As pessoas sentiam-se encurraladas como se estivessem numa grande prisão, nem sequer podiam atravessar o muro, não havia emprego, faltava-lhes tudo. As pessoas preferem morrer porque não há esperança", explicou.

Para este jornalista, o fim do conflito e uma paz duradoura implica concessões da parte de Israel para a criação do Estado da Palestina, independentemente de ser o Hamas ou a OLP a negociar.

"Se amanhã houver um acordo de paz sério, o Hamas não terá problemas em aceitar a solução de dois Estados", garante.