Alojamento Local considerado em alguns dados estatísticos divulgados
Direcção Regional de Estatística da Madeira inclui todo o Alojamento Local da Região no apuramento das dormidas e nos resultados globais do turismo divulgados mensalmente, embora não aponte o número de camas global devido à grande volatilidade desta actividade
O crescimento exponencial do Alojamento Local (AL) na Madeira, nos últimos anos, levou a Direcção Regional de Estatística (DREM) a incluir os dados de todas as unidades, mesmo as que têm menos de 10 camas, no apuramento mensal de alguns indicadores referentes ao Turismo, nomeadamente nas dormidas por tipo de estabelecimento e nos resultados globais do total do alojamento turístico.
Nos últimos dados divulgados pela DREM a meados de Outubro, referentes ao passado mês de Agosto, o AL, na sua globalidade, representou 23,9% do total de dormidas. Estas contas dizem respeito a 275 mil dormidas num universo de 1,1 milhões só no referido mês. As unidades de AL com menos de 10 camas assumiram 68,4% das dormidas (188 mil dormidas) respeitantes a essa área, o equivalente a 16,3% do total.
Se olharmos o somatório para o ano 2023 apurado até Agosto, a totalidade do AL congrega 1,7 milhões de dormidas, traduzindo uma fatia de 23,6% do total apurado para os alojamentos turísticos existentes na Região. Nestas contas, o AL com menos de 10 camas representa 1,1 milhões de dormidas, enquanto as unidades com mais de 10 camas se ficam pelas 586 mil dormidas.
Em todas as circunstâncias, os números respeitantes ao ano em curso são superiores aos do ano passado, conforme apontam os levantamentos feitos pela DREM.
Os dados dos resultados globais do total do alojamento turístico da Região, que incluem, também, as unidades de AL com menos de 10 camas, apontam para uma média de 202 mil hóspedes entrados no mês de Agosto deste ano, e uma cumulativo desde Janeiro na ordem dos 1,4 milhões de hóspedes.
A estadia média desceu um pouco em relação ao ano transacto, fixando-se em Agosto de 2023 nos 5,07 noites, incluindo no AL com menos de 10 camas, quando em igual período do ano passado essa média era de 5,25 noites.
Ao DIÁRIO, o director regional de Estatística explicou o percurso seguido no acompanhamento dos dados respeitantes ao Alojamento Local, na Madeira. Paulo Baptista Vieira realça que “inicialmente comportável em termos da disponibilidade interna de recursos humanos, o alojamento local cedo começou a se tornar um desafio para a DREM”, sendo que com o “crescimento imparável de unidades” condicionou a acção e complicou o acompanhamento feito, sobretudo porque “o processo de integração de cada unidade no sistema do Instituto Nacional de Estatística a se caraterizar por ser muito meticuloso, obrigando a um contacto com os proprietários para obter o número de identificação fiscal, confirmação do número de camas e outros dados”.
Enquanto isso, a nível de Portugal Continental, o INE limitava o acompanhamento apenas ao alojamento local acima das 10 camas, em conformidade com as exigências estabelecidas em regulamento europeu. Nos Açores, o Serviço Regional de Estatística daquele arquipélago (SREA) decidiu também inquirir mensalmente todos os estabelecimentos de alojamento local, independentemente da sua dimensão. Paulo Baptista Vieira, director regional de Estatística
Face às dificuldades encontradas, a DREM resolveu solicitar ao Instituto Nacional de Estatística (INE) “a passagem da operação junto do alojamento local para uma amostra que fosse representativa do universo da RAM para as variáveis mais importantes, em vez de inquirir todos os alojamentos locais”, pese embora a perda de detalhe que essa opção representa, nomeadamente no que respeita aos “países de residência dos hóspedes, mas também do município e freguesia onde se realizava essa permanência e respetivas dormidas”.
De fora dessa contabilização ficaram sempre o número de camas existentes.
Entretanto, conforme apontou Paulo Baptista Vieira, o INE tem em curso a implementação de uma “solução ambiciosa”, o Sistema Integrado de Informação sobre o Turismo (SIT). Actualmente, os dados referentes a todo o Alojamento Local apurados pela DREM são obtidos através do Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e Outros Alojamentos.
Já em Dezembro de 2021, na sua revista electrónica ‘Inews’, o INE referia que o SIT assenta num modelo de transmissão de dados, automatizado e seguro, que irá permitir a simplificação dos reportes por parte das empresas do sector. Mas o projecto ainda não está devidamente implementado, estando a ser desenvolvido em parte ao abrigo de uma candidatura SAMA – Sistema de apoio à modernização e capacitação da Administração Pública, aprovada em Dezembro de 2020.
O SIT pretende, também, acabar com a redundância de pedidos às empresas de prestação de serviços de alojamento por parte de várias entidades, constituindo-se, assim, como canal único na transmissão de dados, pressupondo uma ligação com o sistema de registos dos estabelecimentos de alojamento turístico, evitando a consequente sobrecarga administrativa.
Mas com o projecto SIT, a Direcção Regional de Estatística deixou ‘cair’ a recolha de dados por amostrarem, “pois isso seria ir no sentido contrário do que se pretende fazer no continente”. O responsável pela DREM nota que “a automatização do reporte permitirá simplificar bastante a recolha de informação e tudo o que lhe está inerente, ao mesmo que se garante um detalhe muito significativo dos dados, o que é de sobremaneira relevante numa Região de pequena dimensão como a Madeira, em que é fundamental uma análise final do fenómeno turístico”.
Este responsável recorda, também, a evolução verificada na recolha de dados referentes ao AL por parte dos técnicos da DREM, sendo que no início tinham de “aguardar pelas actualizações que eram enviados pelas Câmaras Municipais”, mas a integração das unidades regionais no Registo Nacional de Alojamento Local (RNAL), plataforma gerida pelo Turismo de Portugal, “veio simplificar a identificação das novas unidades de alojamento local”.
Ao contrário da Madeira, que resolveu integrar essa plataforma nacional, os Açores optaram por ter o seu próprio registo.
O director regional de Estatística nota que “nem tudo é ‘ouro’”, no RNAL. E aponta algumas das falhas. “A DREM tem. ao longo dos anos. identificado diversas situações de unidades que já não operam no alojamento local e que continuam no RNAL”, refere, dando enfase, também, os casos de duplicação de registos perante mudança de proprietário, “o que obriga a que os técnicos da DREM façam uma espécie de ‘trabalho de detective’ para não perder o rastro do alojamento e apurar quem de facto está a operar no momento”.
No rol de críticas inclui, ainda, o facto de “não raras vezes também o número de camas no RNAL ou altera-se ou não corresponde à realidade, situação que a DREM detecta ou no primeiro contacto com os proprietários ou através do reporte que é feito nos questionários, situação depois confirmada telefonicamente ou por e-mail”, evidencia Paulo Baptista Vieira.
Embora aquém do observado na hotelaria e no turismo no espaço rural, em que à data da publicação dos resultados definitivos (Julho do ano seguinte ao de referência), as taxas de resposta rondam os 100%, o alojamento local regista uma taxa de resposta inferior, mas que se pode considerar elevada, tendo em conta a natureza do sector. Em 2022, a taxa de resposta no AL na RAM foi de 92,7%. De notar que o sistema do INE, estima, usando métodos estatísticos, os valores das não respostas. Paulo Baptista Vieira, director regional de Estatística
Pese embora alguns promotores optem por não responder aos inquéritos, aquele responsável faz notar que “tal como sucede na generalidade dos inquéritos do INE/DREM, a resposta é obrigatória por lei e a não resposta pode terminar numa coima entre os 250 euros e os 25.000 euros, para as entidades singulares, e os 500 euros e os 50.000 euros, para as entidades colectivas”.
Face às diferenças que actualmente se verificam na recolha dos dados, entre as regiões autónomas e o continente, os organismos que tutelam a estatística na Madeira e no Açores acabam por divulgar mais dormidas para os respectivos territórios do que o INE.
Isso mesmo é explicado por Paulo Baptista Vieira. Em resultado do acompanhamento que a DREM faz de todo o alojamento local, na divulgação que é feita a meio de cada mês, publicam “um agregado que compreende a hotelaria, o turismo no espaço rural e todo o alojamento local, independentemente do número de camas”. Contrariamente, o INE, na sua divulgação, “exclui o alojamento local com menos de 10 camas, pelo que a DREM divulga um total geral superior ao do INE, no que respeita a hóspedes e dormidas. Para as variáveis taxas de ocupação, quartos, proveitos e custos com o pessoal, os valores são coincidentes com os do INE, pelo facto do seu apuramento excluir o alojamento local abaixo das 10 camas”, salienta o director regional.
No seu entender, “esta situação só será superada quando o INE começar a divulgar dados para a totalidade do AL, situação que está dependente da implementação do SIT”, realça.