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ONG quer mudar paradigmas e transformar anciãos em empreendedores na Venezuela

Foto Molina86/Shutterstock.com
Foto Molina86/Shutterstock.com

A ONG Ashoka implementou o programa Nova Longevidade para mudar paradigmas e transformar os anciãos em empreendedores, na Venezuela, país onde milhões de idosos recebem menos de cinco euros mensais de reforma e precisam de assistência humanitária.

"A Ashoka tem mais de 30 anos, foi fundada em 1986 e Ashoka significa ausência de tristeza. É uma organização que tem como tema de ação o empreendedorismo social. Na América Latina temos uma rede de quase 1.000 empreendedores e na região andina, da qual nos encarregamos, quase 250 empreendedores sociais", explicou à Lusa a diretora de empreendimento social daquela organização não-governamental (ONG).

Sybil Caballero explicou ainda que, dentro das suas linhas estratégicas, a Ashoka tem um programa chamado Nova Longevidade e outros três que tratam do ambiente, do género, e da tecnologia e ética.

Há dois anos que trabalham o tema da Nova Longevidade, promovendo eventos na Venezuela e na Colômbia, e, sobretudo, "uma mudança de narrativa".

"Mudar os conceitos tradicionais de 'idadismo' [preconceito etário], de avozinhos, essa ideia de que quando somos 'adultos maiores' [idosos] chegamos ao último período das nossas vidas, que somos descartáveis, e validar principalmente o idoso como alguém que pode continuar a contribuir para a economia, para a sociedade (...) promovendo também estratégias de bem-estar", disse.

Segundo Sybil Caballero é precisa uma mudança de mentalidade de raiz, para ver o ancião como alguém que está numa fase da vida em que pode perfeitamente contribuir, dar continuidade ao seu trabalho e gerar rendimentos.

"Não relacionar um antes e um depois - de que já fui jovem e agora sou ancião -, mas dar-lhe um sentido de continuidade e também compreender que envelhecemos todos os dias, independentemente de sermos crianças, jovens, ou outra faixa etária a que pertençamos", explicou.

Para isso, explicou, é importante ativar o ecossistema, transformar a visão dos empresários, das universidades, e de como gerir esta nova longevidade, dar ferramentas aos anciãos empreendedores e apoiar o empreendedorismo, para que seja sustentável, não apenas do ponto de vista financeiro, mas do fortalecimento organizativo, da forma de incorporar nos objetivos a ação e o compromisso com os enunciados globais decretados pelas Nações Unidas.

"Tentamos romper pontos de vista e estruturas, e chegar, através de inovações, de novas soluções à criação de novos serviços, de novos produtos, de novas políticas públicas (...) promovemos o reconhecimento (dos idosos) no ecossistema, mas também na própria pessoa e nas suas próprias capacidades", disse.

Na Venezuela, a idade de reforma das mulheres é de 55 anos e dos homens 60 anos, mas, diz Sybil Caballero, isso não significa que estes cidadãos sejam descartáveis. Com antecipação, as pessoas podem preparar-se para dar continuidade a projetos, ao que fazem, de compreender que não é o fim da vida.

"Portanto, é como romper paradigmas e proporcionar esses espaços para o bem-estar, para as relações", frisou.

"Temos uma população que se sente só, e particularmente na Venezuela, algo muito importante é a migração que se deu, em que muitos jovens partiram e muitos idosos ficaram sozinhos", explicou, enfatizando que perante "esse sentimento de solidão" é preciso conectá-los em redes, fazê-los relacionar-se e viver de outra maneira.

Explicou ainda que na Venezuela há empreendedores sociais em várias áreas, entre elas a educativa e social e o desenvolvimento económico, que acreditam que é preciso inovar, ir além dos programas assistencialistas.

Precisou que o município de Chacao (leste de Caracas), avançou com um decreto para ajudar os idosos num país em que as pensões não cobrem as necessidades e há uma população que tem recebido ajuda humanitária.

Também que a Ashoka tem promovido ações em universidades e empresas porque os jovens são parte importante dessa transformação e mudança.

Aos anciãos, diz que "estão no melhor momento das suas vidas" que há uma transformação e uma mudança e que muitas empresas requerem os seus serviços.

Aos empresários, recomenda mudar o 'interruptor' e compreender que os idosos são um valor muito importante e ativos, na sociedade.