Colégios católicos Mano Amiga transformam a vida de crianças pobres na Venezuela há 30 anos
Há 30 anos que a rede internacional de colégios católicos Mano Amiga A.C. (MA) usa a educação como motor de transformação para ajudar crianças e comunidades pobres na Venezuela.
A rede tem atualmente dois colégios nas proximidades de Caracas, um em Filas de Mariche, fundado há 30 anos, e outro em Montanha Alta, Filas de Turgua, fundado há 20 anos.
"Já temos mais de 1.600 [alunos] formados que estão nas melhores universidades do país e no estrangeiro. Temos profissionais como administradores, engenheiros, advogados, médicos, enfermeiros, designers gráficos, comunicadores sociais, educadores, psicólogos", explicou à Lusa a diretora de Angariação de Fundos das Escolas Mano Amiga.
Ludiana Altuve frisou ainda que além de da formação "incutem valores, para que possam formar famílias saudáveis, cristãs, ajudar a transformar o ambiente e ser melhores todos os dias".
"Estamos apenas a 40 minutos de Caracas, mas muito longe da civilização, da cidadania (...) numa zona onde não há serviços públicos, não há transportes e as casas são feitas de 'bahareque' [uma mistura de lama e fibras vegetais], com chão de terra, muitas deficiências e onde não há água canalizada", explicou, precisando que a escola fornece água a 400 famílias da localidade e levou eletricidade à zona.
Como exemplo de um caso de sucesso, cita uma família de seis filhos que foi ajudada pelo colégio: "todos eles estudaram na escola, o pai esteve ausente, a mãe tem problemas neurológicos e não pode trabalhar, mas são crianças extremamente inteligentes, boas, que querem progredir".
"Desses seis, quatro já se formaram, dois deles estão no estrangeiro a trabalhar, a estudar e a ajudar a mãe, dois estão na universidade e aos outros dois damos uniformes, alimentação, tudo o que precisam para poderem avançar", disse.
Na comunidade, "geralmente os pais saem para trabalhar e, quando os filhos regressam, a casa está vazia, têm de se desenvencilhar sozinhos (...) amadurecer antes do tempo. Muitas vezes, têm de desempenhar o papel dos pais quando há irmãos mais pequenos", disse.
Ludiana Altuve destacou ainda a "sensibilidade social para ajudar os outros" que ensinam na escola: "em MA incutimos sempre que a única coisa que nos vão perguntar no fim da vida é o que fizemos pelos irmãos, não quanto dinheiro acumulámos, quantas casas comprámos (...) E insistimos nisso, porque dá essa cidadania de que precisam para se desenvolverem como devem na sociedade", explicou.
A Mano Amiga, explicou, é uma obra social financiada por doações de empresas e de benfeitores que apadrinham crianças, cobrindo os custos de educação e alimentação, "porque uma criança com fome não consegue estudar".
Além destes doadores, também plataformas internacionais, como a Global Giving, apoiam a rede na angariação de fundos.
A rede procura também acompanhar mulheres grávidas, para garantir que fazem 'check-ups' médicos mensalmente e se alimentam bem, porque "se o bebé sofrer má nutrição terá uma perda de capacidade mental que não pode ser revertida".
"O trabalho nunca acaba. O logótipo do MA são duas mãos entrelaçadas à volta do globo e isso significa que a mão do Mano Amiga estará sempre disponível", frisou.
Por outro lado, a diretora-geral, Donatina Giuliani, explicou que na escola de Turgua têm 300 alunos, desde os 3 anos de idade até ao quinto ano de bacharelato.
"Somos um centro de evangelização, administramos os sacramentos do batismo, primeiras comunhões e crismas, e em breve estaremos também a preparar casamentos (...) acreditamos e defendemos a vida, que nos Evangelhos está a verdade e que a Virgem Santíssima nos acompanha sempre", uma fé que se expressa também em Nossa Senhora de Fátima, que é "coroada" cada mês de maio e serve de guia ao longo do caminho.
Donatina Giuliani, agradeceu "à maravilhosa comunidade portuguesa, por tudo o que tem feito pelo crescimento da Venezuela", sublinhando que "é muito religiosa e as suas orações são importantes para o trabalho" que é feito na MA.
A professora Nazaret Krusko, explicou à Lusa que ela própria estudou na escola onde agora é docente, "uma responsabilidade muito grande", pois ocupa "o lugar dos seus mentores".
"É também uma responsabilidade fazer os meus alunos (...) compreender a realidade, ver que podem sonhar, transcender e progredir", disse.
Sublinhando que tem um filho a estudar na escola e que não imagina como seria a vida sem a MA, insistiu que a escola "é a melhor opção (...) também em valores e ferramentas para o futuro".