Será verdade que certificação da Cebola da Madeira chegou quando há pouco ou nenhum produto à venda?
Anteontem, a Comissão Europeia incluiu a "cebola da Madeira" na categoria de Denominação de Origem Protegida (DOP). A notícia desta certificação foi difundida pela comunicação social e nas redes sociais surgiram comentários de cidadãos a lamentar que esta distinção tenha chegado quando no mercado regional praticamente só há cebola importada para venda. Será mesmo assim?
“[A cebola da Madeira] é do melhor que há. Mas onde está ela?”, questionou Doroteia Gonçalves, no Facebook. “Só se vê cebola espanhola nos supermercados. Onde é que anda a cebola da Madeira?”, reforçou Vítor Nunes, que considera que o executivo madeirense se atrasou no processo de certificação. “Vendem a nossa cebola para fora e compramos a que vem de Espanha e do continente”, adiantou Hélder Jardim. Já Cláudia Amador apontou responsabilidades ao consumidor madeirense e às suas opções: “O que vem de fora é que é bom. É a teoria do vilão ignorante”.
O DIÁRIO percorreu, esta manhã, o Mercado dos Lavradores, várias lojas de verduras e supermercados de diferentes empresas da baixa do Funchal e não encontrou cebola regional à venda. A haver, essa produção regional será em pequenas quantidades e estará à venda em estabelecimentos que constituem uma excepção. Regra geral, no presente momento e na baixa citadina, a cebola que está ao dispor do consumidor chegou do território continental ou de outros países (Espanha, Países Baixos ou Peru). Um vendedor assumiu ao DIÁRIO que não tinha cebola da Madeira e afirmou que nalguns casos há quem venda cebola importada como sendo cebola regional. No Facebook há comentários no mesmo sentido: “Há quem venda cebola do Peru, como sendo a nossa”.
A produção de cebola regional no corrente ano “ronda as 4.000 toneladas” mas a Secretaria Regional de Agricultura reconhece que actualmente é o período do ano de menor existência no mercado, "uma vez que o período de maior produção e comercialização é a Primavera/Verão" e sublinha que "as variedades regionais mais cultivadas são de ciclo curto/médio, ou seja, com menor período de armazenamento". Nos últimos 4 anos, a produção tem sido inferior à normal, bem como estamos num período em que a cebola da campanha anterior já foi comercializada, estando os agricultores a iniciar sementeira para a nova campanha.
A isto somam-se "os efeitos das alterações climáticas na diminuição da produção, associada ainda à intensificação dos problemas fitossanitários". As alterações climáticas, nomeadamente temperaturas altas durante o dia e também durante a noite (noites tropicais) e uma pluviosidade errática no tempo e na dimensão, são uma situação que tem grande influência no ciclo fenológico da cebola, bem como expõem de forma muito mais aguda as fragilidades da cultura, nomeadamente pelo deficiente maneio agronómico, como por exemplo: a falta de rotação da cultura na parcela; a utilização de sementes produzidas pelo próprio agricultor, ano após ano, tendo como causa prévia, uma degeneração das mesmas; a rega e fertilizantes deficientes; o aumento do aparecimento de doenças e pragas e aumento da agressividade das mesmas.
A mesma fonte oficial revela que a Direcção Regional de Agricultura tem em curso um estudo, junto dos produtores, no sentido de identificar com maior profundidade as causas da menor produção, bem como a realização de estudos/ensaios das variedades tradicionais da Madeira (peão, bujanico, entre outras) que serão adquiridas junto dos agricultores e do Banco de Sementes da Universidade da Madeira (UMa), com o objectivo de criar pés-mães, para obter e fornecer sementes dessas variedades aos produtores de cebola, com o devido acompanhamento técnico, como forma de fomentar a produção de cebola.
A Secretaria liderada por Rafaela Fernandes observa que "a cebola da Madeira tem características únicas, que as diferenciam das importadas, razão pela qual é preferida pelos consumidores madeirenses". Para fazer face às perdas de produção, o Governo Regional decidiu conceder um apoio financeiro extraordinário (este ano a exemplo do ano anterior) aos produtores de cebola, fixado em até 34 mil euros, com vista a ressarci-los de parte dos prejuízos causados nos seus cultivos por condições meteorológicas adversas registadas no decurso do mês de Junho de 2023.
Em resumo, é verdade que a inclusão da "cebola da Madeira" na categoria de Denominação de Origem Protegida (DOP) coincidiu com um momento em que há pouca ou nenhuma produção regional à venda.