Estas eleições legislativas estão a ser tudo, menos desinteressantes
1. A imprevista campanha eleitoral, já em curso, para a qual nenhum partido e candidato estava preparado, teria tudo para ser desinteressante, assemelhando-se, como José Miguel Júdice prevê, a um campeonato de futebol em que se retirou as primeiras quatro melhores equipas da competição.
2. Na minha perspectiva, existem algumas particularidades que conferem à presente campanha eleitoral, um interesse adicional.
3. Assim, temos dois candidatos à liderança do PS que, simultaneamente, fazem campanha para dentro e para fora do partido, o que lhes dá uma visibilidade acrescida nos órgãos de comunicação social (aqui Montenegro, perde vantagem, porque tem dois candidatos do PS contra si), apesar de a preferência na cobertura mediática ser dada a Pedro Nuno Santos. A percepção da inevitabilidade de que “está escrito nas estrelas” que este vai ser o futuro líder, continua a valer muito em política.
4. Não sabermos quem ganhará as internas do PS, mas este partido, independentemente do seu futuro líder e candidato a primeiro ministro, ainda assim, consegue estar à frente do PSD nas intenções de voto, o que deverá ser motivo de preocupação nas hostes laranjas.
5. Continua a persistir a incógnita se o PS vai escolher um candidato moderado, de continuidade e barreira aos extremismos ou um candidato mais impetuoso, de rotura e de imprevisibilidade. O que vai ditar a escolha, a essência ou a forma?
6. Quanto aos restantes partidos, tanto à direita como à esquerda, verifica-se já alguma contenção no discurso em relação aos seus possíveis futuros parceiros, obviamente para não inviabilizarem um acordo pós eleitoral que se prevê indispensável para garantir a governabilidade do País.
7. A ausência de Passos Coelho e Rui Rio, neste último Congresso do PSD, é revelador do quanto Montenegro está longe de unir o partido, numa altura onde seria importante mostrar ao País essa união em oposição ao PS que se encontra dividido quanto à escolha da nova liderança. Liderança essa, que não terá tempo suficiente para se consolidar em torno de um projecto, (o que, aliás, até pode ser uma vantagem, no caso de ser Pedro Nuno Santos a vencer). Nem mesmo a presença, ensaiada como se inesperada fosse, de Cavaco Silva, que deixou a mulher à sua espera para jantar, permitiu mascarar esse vazio. Só a questão da oportunidade prevista de se alcançar o poder em menos tempo que se esperava, a impossibilidade de se ter melhor candidato tão perto do acto eleitoral, pode explicar alguns apoios internos de relevo de última hora.
8. O mini Congresso, pela sua duração, só ficará para a História, para além dos arregimentados do costume e das promessas que podem por em causa as contas públicas (ao que parece, foi palavra de ordem do passado do PSD, adoptada depois por António Costa e agora pelo candidato José Luís Carneiro), pela inaudita e apoteótica invocação do legado de Cavaco Silva, que havia sido vetado ao ostracismo e à ridicularização pelos seus detractores e opositores dentro e fora do partido, desde que deixou Belém pela porta pequena.
9. Quanto ao PS, é digno de registo o facto de alguns dos seus notáveis, como é o caso do sempre adiado candidato Francisco Assis, que no passado se opuseram à “geringonça”, estejam agora ao lado de Pedro Nuno Santos, um dos principais obreiros dessa ‘travestida” e golpista solução governativa que já é aplicada em outras geografias e quadrantes políticos. Solução que permite governar, sem se ser o partido mais votado, fazendo-se acordos com partidos nos antípodas em termos ideológicos. Como se vê, a incongruência, as contradições, o oportunismo e a salvaguarda das suas próprias carreiras, continua de boa saúde dentro do PS e recomenda-se.
ES