Não se pode/deve tratar igual o que é diferente
Começo pedindo desculpa pela minha ignorância, pois não sei muito bem a quem me dirigir especificamente se ao Exmo. Sr. Secretário da Saúde, se à Exma. Senhora Presidente do Instituto da Segurança Social da Madeira, no caso em apreço. Tentei saber pelos meios de que disponho, mas não obtive resposta conclusiva. Quem me poderia facultar a informação segura esqueceu-se de o fazer.
É muito simples o que tenho para dizer, expressão do que já vivenciei e dos muitos casos que me foi dado ouvir. Já não é, infelizmente, novidade para ninguém que no Porto Santo se regista um elevado índice da doença oncológica que afecta cada vez mais doentes e suas famílias, para além de todas as outras patologias existentes. Estes doentes precisam de cuidados, consultas e tratamentos específicos que não estão disponíveis na unidade de Saúde da sua residência, necessitando de deslocar-se com regularidade ao FX para o efeito. É precisamente aqui que se passa por algum desalento e frustração. Não é fácil para ninguém nesta situação que, para além do sofrimento que comporta, tenha de enfrentar uma máquina burocrática que parece estar emperrada. É um suplício desde a hora que se recebe a convocatória para consulta ou e tratamento até quase à hora de embarque. É preciso tratar de viagens, alojamento, transporte e da malfadada credencial todas as vezes que acontece uma deslocação. Não atribuo culpas a ninguém, nem é esse o objectivo, mas creio que os funcionários administrativos executam o seu trabalho de acordo com as ordens/orientações dos seus superiores hierárquicos. Deve haver, tem de haver uma forma mais simples de agilizar estes procedimentos sem expor o doente e seu acompanhante a situações de stress e desespero.
Não há problemas sem soluções.
Não se pode tratar igual o que é diferente. Nós não podemos sair da nossa casa e voltar no mesmo dia com a mesma facilidade com que o faz qualquer madeirense em condição de saúde idêntica. Nós não temos Hospital. Nós não temos medicina privada nem clínicas sempre que precisamos.
Nós não temos laboratórios. Nós não temos quase nada. E não temos culpa.
Agradecemos o que temos, mas é cada vez mais urgente melhorar. É preciso intervir para que, de alguma forma, poder minimizar o sofrimento de tanta gente.
Há coisas que, não querendo parecer ingratos e insatisfeitos, não se pode aceitar de ânimo leve. Como é que se compreende, como é que se justifica que o acompanhante de um doente que precise de internamento não tenha direito a alojamento nem a alimentação enquanto essa situação se mantiver?
Porque não pode viajar de barco uma pessoa com aerofobia, sem consultar previamente um psiquiatra que ateste essa patologia, para que possa usufruir do que tem direito, nomeadamente alojamento , alimentação e transporte?
Por que tem de deixar o alojamento antes do meio dia um doente debilitado e passar o resto do tempo pela rua, faça Sol ou faça chuva até à hora de regressar a casa, de barco ou de avião?
Há outros constrangimentos que poderiam ser facilmente evitados. Afinal, são sempre os custos elevados as razões invocadas, quando há tantos gastos desnecessários que nos saltam à vista. Preocupamo-nos mais com o brilho dos sapatos do que com as solas gastas.
A humanidade sofre muito com quem não sabe nem sente. É preciso maior sensibilidade no exercício de funções públicas. Que os nossos gestos, sobretudo as nossas acções façam a diferença na vida das pessoas e deixem de ser tão só “folclore”.
Madalena Castro