Afinal, os copos nas festas são reutilizáveis ou descartáveis?
Há quem os guarde para o museu das boas memórias, mas a maioria vai para o armazém dos custos de exploração
Há mais de uma década que começou a ser frequente nas festas e arraiais o uso de copos de plástico reciclável ou reutilizável. É certo que trouxeram uma redução significativa do lixo nestes eventos, pois antes eram mais os copos descartáveis à vista nos caixotes ou jogados pelo chão, do que hoje. É uma evidência. Contudo, se para os consumidores há sempre a possibilidade de voltarem a dar uso a um copo de plástico duro que levaram para casa (afinal de contas custam, normalmente, 50 cêntimos a um euro, mais o valor do produto, seja sumo ou cerveja), até, no cenário mais optimista, criarem um 'acervo' de memórias de arraiais bem passados, para os comerciantes constitui uma dor de cabeça, aliás um investimento sem retorno e um estorvo nos armazéns. É que são obrigados a pagar por esses copos identificados por determinado evento, não os podem devolver, mesmo que lavados e em bom estado. Em troca da devolução desse material por uma 'caução' seria uma solução, mas vão-se acumulando ou são deitados ao lixo.
Daí a questão: Afinal, os copos são reutilizáveis ou descartáveis? O Verão terminou e não faltaram arraias por tudo o que é sítio, freguesia, paróquia e concelho da Madeira e Porto Santo, sem contar as festas temáticas. O impacto destes eventos na produção de lixo, mas sobretudo na produção de plástico deitado ao lixo ou, ainda mais, importante, daquele que foi possível recuperar, reciclar e reutilizar, nunca será conhecido. Torna-se impossível essa contagem.
E estão a recomeçar mais festas, agora de Natal e Fim-de-Ano. E voltam a ter a utilização dos copos recicláveis, pelo menos na teoria. Com um custo normalmente de 0,50 cêntimos de euro, acabam muitas vezes por ser reutilizáveis apenas para o consumidor, seja durante o evento, seja mais tarde e podem durar anos. O autor deste texto tem provas lá em casa dessa reutilização uma e outra e mais outra, infindáveis utilizações.
E até aqui, tudo bem! É mesmo esse o objectivo. Se se pensar que por cada cerveja ou sumo pedido ao balcão do arraial se continuasse a usar sempre os copos descartáveis - ainda os há por aí, mas tendem a ser cada vez menos, apesar de mais baratos e, por isso, mais rentável para o comerciante. Mas isso só acontece quando os organizadores dos eventos não optam por criar copos identificados e fornecer, pagando-os, aos que para lá vão fazer negócio. Uniformiza a imagem do evento, mas cria um problema de estes não poderem ser reutilizados noutros eventos.
O problema, segundo foi possível apurar junto de uma comerciante habitual nestes eventos, é que têm de pagar por esses copos, mas depois não os podem devolver à procedência após a realização do negócio. Ou seja, é um investimento sem retorno, mas para piorar e por terem a identificação "Festa da..." ou Arraial do...", dificilmente os podem reutilizar no evento seguinte ou seguintes, não só porque o consumidor poderá não aceitar essa reutilização como os organizadores da festa que se segue poderá querer que estes usem o 'seu' copo, criado para o efeito.
Isto significa que os também designados 'Eco-copos' não estão a servir o principal propósito para o qual foram idealizados? A 'bandeira verde' a que muitos têm aderido, também é confundido com 'marketing verde', mas há também quem a adjective de pura e simples 'greenwashing', que vai além dos objectivos puros e duros da sustentabilidade, para ser uma descarada utilização do símbolo 'Amigo do Ambiente'.
Greenwashing ou redução de custos?
Para explicar melhor estes conceitos, recorremos ao portal Saldo Positivo da CGD.
"A sustentabilidade é cada vez mais uma preocupação dos consumidores e a prova disso é que está entre as tendências de marketing mais relevantes para o futuro. As empresas sabem que as políticas ambientais são importantes para a sua reputação perante os consumidores e já perceberam que estes estão dispostos a pagar mais em nome da sustentabilidade", recorda a abrir. "Um estudo da Pew Research, citado pelo IBM Institute for Business Value (IBV), revela que 72% dos consumidores de 17 países desenvolvidos estão preocupados que as alterações climáticas os prejudiquem pessoalmente a dada altura da sua vida. Outro relatório do IBV, de 2021, mostra que mais de 90% dos consumidores a nível global afirmam que a sustentabilidade é importante na escolha de uma marca".
Ora. perante esta crescente preocupação, "as empresas, marcas e organizações esforçam-se por ir ao encontro destas expectativas e passar uma imagem verde. A verdade, porém, é que nem sempre é bem assim. O greenwashing é, portanto, uma espécie de branqueamento ambiental (ou ecobranqueamento), em que se procura passar uma imagem de sustentabilidade quando, na prática, a empresa ou organização tem um impacto ambiental negativo".
Será precisamente o caso destas festas temáticas e que colocam o selo da mesma nos copos, impossibilitando o uso noutros eventos. Para que esse ideal de sustentabilidade fosse efectivamente cumprido, a começar nestes copos, os comerciantes e mesmo os consumidores que assim o quisessem, poderiam e deveriam conseguir reutilizar os copos de plástico e não criar nisso mais um negócio, quiçá para custear as despesas do evento.
Voltando ao início de tudo, quando surgiram, a ideia era o consumidor levar o copo por um preço mínimo (50 cêntimos foi o padrão) e, caso quisesse, devolver no mesmo evento com o recebimento da 'caução'. Só que hoje em dia essa prática parece ter caído em desuso, pelo que é frequente ver estes copos atirados ao lixo, como se descartáveis fossem, mesmo porque os comerciantes, também, já não os podem reutilizar para outro consumidor ou devolver à organização para receber uma verba. Um problema criado com os novos tempos de consumo, mas que teve na ideia original, bons princípios. Urge, quiçá, reformular a legislação.