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Boicote à União para o Mediterrâneo é "oportunidade perdida"

Reunião da União para o Mediterrâneo começa, hoje, em Barcelona, defendendo solução de dois Estados

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Foto Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros português considerou "uma oportunidade perdida" o boicote de Israel à reunião da União para o Mediterrâneo, que começa hoje em Barcelona, defendendo um debate sobre passos concretos para a solução de dois Estados.

A organização, cuja reunião decorre entre hoje e segunda-feira, junta os 27 Estados-membros da União Europeia, 15 países árabes e Israel, que anunciou que recusa participar neste encontro depois de a agenda ter sido mudada para ter como ponto único "a situação crítica em Israel e em Gaza-Palestina, assim como as consequências na região".

"Infelizmente, Israel não estará presente em Barcelona. Creio que é uma oportunidade perdida para Israel, mas não nos deve impedir de aprofundar o diálogo com os países árabes sobre aquilo que podemos fazer em relação ao ponto de chegada com o qual todos concordam, que é a solução de dois Estados [Israel e Palestina], que vivem lado a lado e em paz e segurança", disse à Lusa João Gomes Cravinho, que marcará presença no encontro.

A solução de dois Estados, sustentou, "é um objetivo que já não pode ser adiado".

"Ao longo de muitos anos, temos vindo a falar desse objetivo como uma grande ambição da comunidade internacional, mas na realidade, pouco nos temos aproximado dessa solução. O que nós compreendemos todos coletivamente, globalmente, é que não podemos continuar a falar de solução de dois Estados sem encontrar os passos concretos que nos levem a cristalizar essa realidade nova e dessa forma começar a construir justamente a visão de paz e segurança para ambos", defendeu o chefe da diplomacia portuguesa.

Para João Gomes Cravinho, "a paz em Israel depende disto".

"A população de Israel não irá viver em paz e segurança enquanto não houver também paz e segurança, justiça, dignidade para o povo palestiniano", assinalou.

Para o Governo português, "é fundamental dar-se esse passo", ainda que o caminho possa ser "difícil".

"Com certeza que é necessário liderança, é necessária coragem, é sempre assim em relação aos grandes consensos, mas a situação atual já não permite adiar mais esta questão", comentou.

A 07 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.200 mortos, na maioria civis, 5.000 feridos e cerca de 240 reféns.

Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.

A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 51.º dia e ameaça alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza cerca de 15.000 mortos, na maioria civis, e mais de 33.000 feridos, de acordo com o mais recente balanço das autoridades locais, e 1,7 milhões de deslocados, segundo a ONU.

Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, 200 palestinianos foram mortos pelas forças israelitas ou em ataques perpetrados por colonos.