Falta pouco mais de três meses para as Legislativas antecipadas de Março, mas os aparelhos partidários já se agitam freneticamente para moverem todas as influências possíveis para colocar nos lugares elegíveis os seus apaniguados. Sempre foi assim e sempre será. Para mal da democracia que se realiza, também, através dos partidos. Em vez de se baterem por ideias, projectos e soluções concretas para mitigar os problemas que atormentam a população (e são tantos em tantas frentes) entretêm-se no labirinto dos jogos que lhes permita chegar ao lugar desejado na lista de deputados.

Na semana passada aconteceram dois exemplos. Em Câmara de Lobos Miguel Albuquerque foi confrontado com o nome do autarca local, Pedro Coelho, para encabeçar a lista da mais que provável coligação PSD/CDS. O embaraço público gerou incómodo tanto ao presidente do Governo como ao presidente da Câmara, que terá manifestado vontade de mudar de ares. Episódio dois: Carlos Pereira, antigo líder socialista, já deu todos os sinais, para que não haja equívocos, da sua grande vontade (quase exigência) de permanecer como número 1 da lista do PS-M, mesmo antes de Paulo Cafôfo ter entregado a sua candidatura à presidência do partido, a única por sinal, apesar da existência de tantas críticas internas perpetradas pelos mesmos que tornaram o PS numa agremiação autofágica nas últimas décadas.

Tanto num caso como no outro não estão em causa as qualidades políticas, profissionais e a entrega à causa pública. Está sim o tacticismo utilizado para marcar terreno, reservar lugares, condicionar escolhas.

Pedro Coelho tem um mandato muito claro da população para acabar e deve honrá-lo até ao fim. Depois tem tempo para planear a sua vida política. Aliás, já tem um lugar assegurado no parlamento regional, o que lhe confere conforto no fim do mandato autárquico, apesar de o seu historial ganhador permitir-lhe sonhar com outros voos, onde entra seguramente a liderança do PSD-M.

Carlos Pereira, por seu lado, já deveria saber que não há lugares eternos e cativos para ninguém. No limite, somos todos substituíveis. E também já deveria saber que com posições tão críticas e distantes de Cafôfo deveria ter dito presente ao confronto na batalha eleitoral interna. E é nisto que os partidos – quase todos – falham. Em vez de se abrirem, de se renovarem, de surpreenderem o eleitorado com novas caras portadoras de uma mensagem arejada e agregadora insistem em alimentar e satisfazer ‘os seus’. Será que ainda não perceberam que o modelo está esgotado e a população cansada deste esquema que beneficia meia dúzia? Isso gera depois um efeito tsunami, que abrange todos os cargos da administração pública. ‘Ou são dos nossos ou não entram’! O PSD e o PS devem, a esta distância do acto eleitoral, primar pela diferença, apresentar programas claros ao encontro dos interesses do círculo eleitoral da Madeira e não dos partidos e dos seus respectivos muchachos. Independentemente dos partidos ou coligações que formem o próximo governo da República, a Região tem de posicionar-se acima das tricas partidárias e convencer os respectivos directórios nacionais da justeza e bondade das medidas defendidas em prol do desenvolvimento regional. Isso tem de ser levado a sério e deixar de ser utilizado apenas como engodo para conseguir votos.

2. É assustadora a subida da extrema-direita ao poder em diversos países. Trata-se de um retrocesso civilizacional a opção por partidos ‘ultra’ perigosos, que têm uma agenda radical, xenófoba, sexista, pseudo-liberal, contra os migrantes, contra o aborto, contra as minorias, negacionistas das alterações climáticas e de pandemias. O terramoto político que tem vindo a ocorrer em vários países tem explicação. Os eleitores estão cansados dos partidos ditos tradicionais e moderados, que alternam o poder entre si, mas que passam décadas sem conseguir resolver os problemas básicos das pessoas, enredados em teias de tráfico de influências, de corrupção e de interesses nefastos. A escalada da extrema-direita é muito perigosa, também em Portugal. Mas, afinal, quem tem permitido o seu crescimento?