ONU preocupada com proporcionalidade do ataque israelita contra o Hamas
O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, expressou hoje em Praga a sua preocupação com a proporcionalidade da ofensiva israelita contra alvos do movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza.
Quase 1,7 milhões de pessoas, de acordo com um relatório recente da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina, foram deslocadas na Faixa de Gaza desde 07 de outubro, quando o Hamas realizou um ataque terrorista surpresa no sul de Israel, que desencadeou uma dura resposta de Telavive.
"Estou muito preocupado com a proporcionalidade", frisou hoje o advogado austríaco, quando questionado sobre o conflito na zona, à margem de uma conferência no âmbito do 75.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
No auditório da Faculdade de Direito da Universidade Charles, na capital checa, Türk lembrou que "o direito internacional humanitário se aplica a todos e não há exceção".
E sublinhou que o incumprimento dos princípios da distinção, proporcionalidade e precaução pode constituir crime de guerra.
O alto-comissário observou que em Gaza "as pessoas são forçadas a retirarem-se em circunstâncias extremamente difíceis", o que se traduz num "sofrimento intolerável" entre a população civil.
O austríaco avaliou a gravidade da situação em termos de "um nível de violência sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial" e, por isso, apelou à permissão da entrada imediata de ajuda internacional na Faixa de Gaza.
A agência da ONU lembrou que 104 trabalhadores humanitários da ONU foram mortos desde o início da guerra.
"Este é o maior número de trabalhadores humanitários da ONU mortos num conflito na história das Nações Unidas", explicou a organização.
A ONU manifestou esta quarta-feira a intenção de aproveitar a oportunidade criada pela trégua entre Israel e o Hamas para aumentar as operações humanitárias.
O porta-voz da ONU, Farhan Haq, frisou que entre 21 de outubro e 21 de novembro entraram cerca de 1.399 camiões com ajuda humanitária, explicando que a média mensal antes dos ataques de 7 de outubro era de 10.000.
A trégua de quatro dias acordada entre Israel e o grupo islamita palestiniano terá início na sexta-feira às 07:00 locais (05:00 em Lisboa).
A 07 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de dimensões sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.200 mortos, na maioria civis, e cerca de 5.000 feridos.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 48.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora naquele enclave palestiniano pobre cerca de 15.000 mortos, na maioria civis, e 33.000 feridos, de acordo com o mais recente balanço das autoridades locais, e 1,7 milhões de deslocados, segundo a ONU.