Nos tempos de Lisboa fui colega de residência de dois jovens aspirantes a médicos dentistas oriundos da Palestina, o afável Aqid e o circunspecto Ahmed. Percursos de vida distintos que se cruzaram comigo durante vários anos.

O conflito entre Israel e o Hamas é um dos temas da ordem do dia. Dando como garantido que todos condenamos as práticas terroristas perpetradas pelo Hamas, criticar os contornos da operação israelita sobre os civis palestinianos não é entrar em contradição. “A palavra é de prata, o silêncio é de ouro”. Eis um provérbio que crescemos a ouvir e aconselha à discrição, ao recato. Um silêncio de milhões parece estar a ser comprado a custo de uma liberdade de expressão verdadeira, sem medos. Israel opta por ir com tudo sobre a Palestina, desconsiderando vidas que valem tanto como as dos seus. Bem prega António Guterres e outras vozes, os pedidos de razoabilidade não ecoam em Netanyahu.

O precioso silêncio da nata política ensurdece o comum mortal e traduz-se em anuência passiva perante a ofensiva israelita. Estar calado tem um preço, ter consciência crítica é ainda mais caro, que o diga Paddy Cosgrave ex-CEO da Web Summit. Impossível fingir que não está a acontecer, estamos todos a assistir. Uns calados, outros nem tanto.