Líder da extrema-direita quer coligação governamental que recupere país para neerlandeses
O líder da extrema-direita dos Países Baixos, Geert Wilders, apelou hoje a outros partidos para trabalharem de forma a formar uma coligação governamental, sublinhando que o seu PVV (Partido da Liberdade) "já não pode continuar a ser ignorado".
"Os neerlandeses esperam que o povo possa recuperar o seu país e que garantamos que o 'tsunami' de requerentes de asilo e de imigrantes seja reduzido", disse Wilders aos seus apoiantes, em Haia.
O líder do PVV discursava após ter sido anunciado o resultado da última sondagem, feita à boca das urnas, e que mostrou que Wilders foi o mais votado nas eleições legislativas dos Países Baixos, ganhando com uma margem esmagadora.
Apesar de o resultado não ser ainda definitivo, a margem de erro é de apenas três assentos parlamentares, o que já dá a certeza da vitória ao PVV, e mostra uma das maiores reviravoltas na política holandesa desde a II Guerra Mundial.
Wilders terá agora de iniciar negociações para formar uma nova coligação e tornar-se primeiro-ministro, sucedendo a Mark Rute, e apelou a outros partidos para se envolverem construtivamente nas conversações.
"Os eleitores disseram 'estamos fartos disto. Enjoados'", afirmou, exultante, acrescentando que irá agora iniciar uma missão para acabar com o "tsunami dos asilos", numa referência à questão da migração, que dominou a campanha eleitoral.
O partido mais próximo do Partido pela Liberdade de Wilders é uma aliança do Partido Trabalhista de centro-esquerda e da Esquerda Verde, que deverá contar com 26 assentos no parlamento (o PVV deverá ter 35 do total de 150).
O programa eleitoral de Wilders incluiu apelos a um referendo sobre a saída dos Países Baixos da União Europeia, a proibição total da entrada de requerentes de asilo e a rejeição de migrantes nas fronteiras holandesas.
Wilders defende também a "desislamização" dos Países Baixos, embora tenha sido mais brando em relação ao Islão durante esta campanha eleitoral do que no passado.
"Os holandeses serão o número um novamente", garantiu Wilders, considerando que "o povo deve recuperar a sua nação".
O líder do PVV, que já foi designado como uma versão holandesa de Donald Trump, terá ainda de formar um Governo de coligação antes de poder assumir as rédeas do poder.
O cenário não será, no entanto, fácil já que os principais partidos estão relutantes em unir forças com Wilders e com o seu partido, mas a dimensão da sua vitória fortalece a sua posição nas negociações.
Apesar da sua retórica dura, Wilders já se tinha aproximado de outros partidos de direita, assegurando que tudo o que fizesse, "seria dentro da lei e de acordo com a Constituição".
A vitória histórica aconteceu um ano após a vitória, em Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, cujo partido - Irmãos da Itália - está impregnado de nostalgia pelo ditador fascista Benito Mussolini.
Desde então, Meloni suavizou a sua posição sobre diversas questões e, como primeira-ministra, tornou-se o "rosto aceitável" da extrema-direita na União Europeia.
Wilders foi durante muito tempo um incendiário que atacou o Islão, a UE e os migrantes, mas, embora se tenha aproximado do poder, percebeu que não o levaria à liderança de um Governo numa nação conhecida pela sua política de compromissos.
Nas últimas semanas da sua campanha, suavizou a sua posição, prometendo que seria um primeiro-ministro para todos os holandeses, e ganhou o apelido de Geert "Milders" (trocadilho entre o seu apelido e a palavra 'Mild' que significa suave ou moderado).
A eleição foi convocada depois de a quarta e última coligação do primeiro-ministro cessante, Mark Rutte, ter renunciado, em julho, por não ter chegado a acordo sobre medidas para controlar a migração.
Rutte foi substituído por Dilan Yesilgöz-Zegerius, uma ex-refugiada da Turquia que poderia ter-se tornado a primeira mulher primeira-ministra do país se o seu partido tivesse obtido o maior número de votos. Em vez disso, deverá perder 11 assentos no parlamento e ficar com 23.
O resultado das eleições nos Países Baixos é o mais recente de uma série de votações que estão a alterar o cenário político europeu.
Da Eslováquia a Espanha, passando pela Alemanha e Polónia, os partidos populistas e de extrema-direita têm conquistado o poder em alguns países membros da UE e chegado perto noutros.