O’Leary olarilolé
Presidente executivo da Ryanair ataca as taxas aeroportuárias “excessivas” por prejudicarem o turismo, o emprego e especialmente as economias insulares. E a ANA nada diz
Boa noite!
A Ryanair anunciou hoje que vai cortar rotas e capacidade em Portugal. Coube ao CEO do grupo a que pertence a companhia, Michael O’Leary, assumir-se como uma das “vítimas do monopólio aeroportuário francês da ANA”. Tamanha flagelação foi assumida numa conferência de imprensa dada em Lisboa.
Uma das medidas afecta a Madeira que perde de um avião para Marrocos, alegadamente devido ao aumento das taxas aeroportuárias. Um ano e meio depois, a base regional fica amputada. Com impactos severos. “Temos 10 rotas na Madeira mas não vão continuar a ser 10, diria que vamos ter de cortar, pelo menos, três ou quatro rotas. Abrimos a base há um ano e meio e esperávamos ter três a cinco aviões na Madeira, mas não teremos”, admitiu o Chief Commercial Officer da Ryanair, Jason McGuinness.
A transportadora irlandesa vai reunir esta quarta-feira, pelas 10 horas, com o Governo Regional da Madeira para tratar deste tema, mas tudo indica que algumas ligações internacionais estão comprometidas e que as rotas domésticas sofrerão danos. E pior seria se o executivo madeirense não se tivesse envolvido em negociações que evitam a debandada definitiva. Aliás, essa salvaguarda foi feita por O’Leary, farto de ver a ANA/Vinci a “encher ainda mais os seus bolsos às custas do turismo português e dos empregos, especialmente nas ilhas portuguesas, que dependem de turismo e de acesso ao turismo".
Até esta hora, a imperturbável ANA nada disse. Não admira. Há mais de um ano que aguardo respostas colocadas na sequência do que foi dito no pequeno-almoço com a imprensa realizado a 20 de Outubro no aeroporto da Madeira, com a presença do CEO da Ryanair, Eddie Wilson e do secretário regional do Turismo, Eduardo Jesus.
Na altura ficou bem claro que o aumento das taxas aeroportuárias tiravam competitividade ao aeroporto e ao destino e inibiam a Ryanair de lançar novas rotas no Inverno de 2023 partir da sua base na Madeira. Dado que os reparos voltaram a ser feitos publicamente e que a Região reprova tais aumentos, a ANA limitou-se a referir que o “nível das taxas aplicadas na Madeira não pode ser apreciado sem ter em consideração os incentivos oferecidos às companhias aéreas, das quais a Ryanair é a primeira beneficiária através nomeadamente do incentivo à criação de bases operacionais disponibilizado pela ANA à todos os operadores”.
O problema é que do indelicadamente considerado “evento comercial” ficaram outras respostas por dar, depois de devidamente colocadas à ANA, que recordamos:
1. Qual o montante anual dos incentivos oferecidos às companhias aéreas, entre as quais a Ryanair, e de que forma é que são concedidos?
2. Qual o montante anual do investimento da ANA no desenvolvimento da conectividade da Região?
3. Quanto tem ganho anualmente a ANA com os aeroportos da Madeira e Porto Santo?
4. Que análise faz a ANA do facto do governo regional “reprovar” sistematicamente qualquer subida das taxas aeroportuárias?
Também até a esta hora, a ANAC nada disse. A Autoridade Nacional da Aviação Civil foi chamada a intervir, congelando os aumentos propostos pela gestora dos aeroportos, tal como estão a fazer outros aeroportos europeus, para estimular o tráfego e a recuperação do turismo pós pandemia de covid-19. Mas o regulador finge-se em 'overbooking'.
A ANA agradece, pois reviu a proposta tarifária para 2024 nos aeroportos nacionais, propondo agora um aumento médio de 14,55% em termos globais, incluindo acertos de taxas não cobradas em anos anteriores. Por aeroporto, a variação é maior em Lisboa, com 16,98% (+2,29 euros), com o Porto a aumentar 11,92% (+0,92 euros), Faro a subir 11,35% (+0,88 euros) e Beja 8,77% (+17,71 euros). Nos Açores proposta prevê uma subida de 7,47% (+0,57 euros) e na Madeira de 7,92% (+0,98 euros).
Como é óbvio, nesta era do quem dá mais e menos cobra, ficámos com certeza que a Ryanair não contou toda a verdade. Há outras razões que obrigam a ajustes. A falta de aviões é uma delas. O atraso nas entregas da Boeing à Ryanair é insustentável. A propensão para a chantagem é outra. Já vem de longe a ameaça que a companhia deixa a Madeira por dá cá aquela taxa. E há ainda a crueldade dos números. A Ryanair chegou a representar, como pretendia, 23% da oferta para a Região?