Israel e Palestina: dois pesos e duas medidas
Os direitos humanos são universais e dizem respeito a todas as pessoas, onde quer que estejam no planeta. Certo? O problema é passar das palavras aos atos.
Assistimos, desde o ataque mortal do Hamas a um festival nas proximidades da Faixa de Gaza no dia 7 de outubro, que vitimou mais de 260 pessoas e sequestrou pouco mais de duas centenas, a um novo capítulo do conflito secular entre Israel e Palestina.
Desde 7 de outubro que, semanalmente, Gaza tem sido bombardeada com uma média de 6.000 bombas. Os números oficiais já contabilizam cerca de 1.400 mortos em Israel e, do lado palestino, mais de 8.300 mortos. Até há alguns dias, quase 2.400 crianças estavam entre os mortos, com mulheres e crianças a representar 66% das vítimas. Estes números já estão, no dia da publicação deste artigo, desatualizados, pois a cada dia crescem.
Em Gaza, muitas escolas e hospitais foram atingidos pelos bombardeamentos, e as pessoas sofrem com escassez de todos os bens essenciais à sobrevivência humana, como água, gás, eletricidade, comida e medicamentos. Na Faixa de Gaza, a água deixou de ser fornecida e a UNICEF já alerta para o risco de desidratação e morte das crianças nesse local.
Convém lembrar que não existe um Estado palestino independente e soberano. As terras palestinas têm vindo a ser ocupadas progressivamente por Israel ao longo de décadas. Desde o início deste conflito que em Gaza milhares de residentes têm sido mantidos incomunicáveis e sem direito a representação legal. Prisões em massa de milhares de palestinianos, incluindo palestino-israelenses, têm vindo a ocorrer um pouco por todo o território, e também na Cisjordânia e em Jerusalém, com mulheres, crianças e jornalistas incluídos. As autoridades israelenses proibiram visitas de advogados e familiares. Várias ONGs têm denunciado estas violações aos direitos humanos, que contradizem as obrigações de Israel sobre as leis internacionais.
Tudo o que envolva matar civis nunca é permitido pelo direito internacional. No entanto, existem dois pesos e duas medidas neste conflito. Dirão que Israel tem direito à defesa. Bombardear massivamente toda uma população, com a justificação que estão a matar terroristas, é direito à defesa? Não. Tal como matar civis inocentes não é direito à resistência por parte do Hamas, e nada justifica o terrorismo.
Foi horrível o que os israelitas sofreram a partir de 7 de outubro, mas a comunidade internacional não está a agir com imparcialidade e pela paz. Muitos países ocidentais uniram-se a Israel, e fecham os olhos à destruição, cerco e morte nos territórios palestinos. Está mesmo a acontecer um desastre humanitário que, infelizmente, tudo indica que poderá tomar proporções cada vez maiores.
O conflito entre Israel e a Palestina é muito longo e complexo e não é possível de explicar num pequeno artigo de opinião. No entanto, parece que a Humanidade continua a repetir padrões de conflito, mesmo após duas grandes guerras mundiais. É possível perceber alguns paralelismos entre o Holocausto e o que os palestinianos têm vindo a sofrer ao longo de décadas – e aqui não estou a falar de governos ou de forças armadas terroristas, refiro-me ao Povo. É pena, porque acima de tudo somos seres humanos, e os fins não podem justificar estes meios atrozes. Os direitos humanos deveriam ser para todas as pessoas, sem diferenças. E não apenas palavras num papel.