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Dezenas de milhares de pessoas afetadas pelas intempéries no Quénia

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Dezenas de milhares de pessoas foram afetadas no Quénia por fortes chuvas, inundações e deslizamentos de terra, que também perturbaram os serviços de carga no porto de Mombaça, disseram hoje as autoridades.

O Corno de África sofreu chuvas intensas e inundações repentinas nas últimas semanas, ligadas ao fenómeno climático El Niño, que causaram dezenas de mortes, incluindo pelo menos 46 no Quénia.

Cerca de 80 mil famílias quenianas foram afetadas "e este número aumenta todos os dias", disse o vice-presidente, Rigathi Gachagua, em comunicado.

O responsável disse que o Governo está a trabalhar para "salvar o povo", enviando helicópteros e outros serviços de emergência para prestar ajuda e resgatar famílias isoladas.

Espera-se que as chuvas fortes continuem no primeiro trimestre do próximo ano, acrescentou, instando as pessoas que vivem em zonas baixas a abandonarem as suas casas.

Nove pessoas morreram na região costeira desde a semana passada, segundo as autoridades.

A companhia ferroviária nacional do Quénia anunciou a interrupção dos serviços de carga de e para a cidade portuária de Mombaça devido às fortes chuvas e deslizamentos de terra ao longo da região costeira.

Um deslizamento de terra num troço da linha ferroviária de carga que liga Mombaça a Nairóbi levou ao "fechamento deste eixo a todos os comboios de carga", anunciou a Kenya Railways num comunicado de imprensa.

A empresa disse que os comboios de passageiros ainda circulavam, mas com atrasos.

Mombaça, a segunda maior cidade do país, e a sua linha ferroviária de transporte de mercadorias servem não só o Quénia, mas também os vizinhos da região sem ligação ao mar, incluindo Uganda, Sudão do Sul e Ruanda.

A organização não-governamental (ONG) Save the Children informou na quinta-feira que mais de 100 pessoas, incluindo 16 crianças, morreram e mais de 700 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas no Corno de África devido a inundações repentinas.

A ONG disse que 46 pessoas morreram no Quénia, 32 na Somália e 33 na Etiópia e alertando que as chuvas "não mostram sinais de abrandamento".

O número de pessoas deslocadas pelas fortes chuvas e inundações na Somália "quase duplicou numa semana", atingindo quase 650 mil, estimou a agência humanitária da ONU OCHA, nos seus últimos números publicados sábado.

Na semana passada, o Banco Mundial disse que a crise climática poderá levar o Quénia a perder até 7,25% do seu produto Interno Bruto (PIB) até 2050 se o país não fizer nada para mitigar os seus efeitos, o que na região se traduziria em secas severas e inundações.

O Quénia, um país com cerca de 53 milhões de habitantes, é o motor económico da África Oriental, mas a sua economia foi seriamente abalada pela covid-19, depois pela onda de choque da guerra na Ucrânia e mais recentemente por uma seca histórica no Corno de África.

A região é uma das mais vulneráveis às alterações climáticas e os fenómenos meteorológicos extremos estão a ocorrer com maior frequência e intensidade.

Em 2022, o setor agrícola representou cerca de 21,2% do PIB do Quénia, 25% das exportações e dava emprego a 30% dos trabalhadores assalariados da economia formal, um setor que o Banco Mundial diz que pode ser muito atingido pelas alterações climáticas.

Em 13 de novembro, o Governo queniano decretou esse dia como feriado para encorajar os residentes a plantar 100 milhões de árvores em todo o país, um apelo ao qual aderiram centenas de pessoas na capital, Nairobi.

O Presidente William Ruto comprometeu-se a plantar 15 mil milhões de árvores até 2032 para aumentar a cobertura florestal do Quénia, após a pior seca dos últimos 40 anos no Corno de África.

William Ruto afirma preocupar-se com as alterações climáticas, mas causou polémica com grupos de proteção ambiental depois de ter anunciado, em julho, que o abate de árvores seria retomado, após uma proibição de mais de cinco anos. A indústria madeireira emprega cerca de 50.000 pessoas diretamente e 300.000 indiretamente, segundo dados do Governo.