Existirá uma maioria social que pretende uma mudança política na Madeira?
Paulo Cafôfo, durante a apresentação oficial da sua candidatura a presidente do PS-Madeira, ocorrida ontem, disse existir na Região “uma maioria social que quer a mudança” política. Mas será mesmo assim?
A análise à veracidade da afirmação do ainda secretário de Estado das Comunidades não é fácil. Antes de tudo haveria que perceber o que é “uma maioria social”.
Da pesquisa por nós efectuada, não encontrámos uma definição precisa e facilmente transponível para a realidade regional. Paulo Cafôfo também não explicitou a que se referia, quando utilizou a expressão “maioria social”. Está em causa a maioria de toda a população residente? Está em causa a maioria dos eleitores, a maioria dos votantes? Contará apenas a maioria da população activa?
Na tese de doutoramento em sociologia de Adriano Pereira Campos – Crises, Estado e Precariedade Laboral, datada de Março de 2020 - Universidade de Coimbra, é dito que aqueles que “se constituíram como maioria social na história política do século XX” foi “a classe que vive do trabalho.”
Também o estudo de Décio Azevedo Marques de Saes, professor titular da Faculdade de Educação e Letras da Universidade Metodista de São Paulo, intitulado ‘Cidadania e capitalismo: uma crítica à concepção liberal de cidadania’, identifica as maiorias sociais como estando associadas às classes trabalhadoras.
O mesmo autor, na Revista de Sociologia Política, em Uma contribuição à crítica da teoria das elites, acaba por teorizar, em torno das maiorias sociais, num sentido pouco promissor para o PS. “Uma minoria social tende, sempre e em qualquer lugar, a governar a maioria social, pura e simplesmente por ser mais organizada que essa maioria; e a minoria social é sempre mais organizada que a maioria social justamente por ser minoria (Mosca, The Ruling Class: ‘E mais fácil para poucos estar de acordo e agir de modo uniforme que para muitos’”.
Acrescenta, ainda, com base na psicologia das massas, que “a massa tende inevitavelmente a ser dominada, no plano político, por uma minoria social que monopoliza a ‘técnica’ política.”
Vejamos, agora, a questão populacional da Madeira e as suas votações, nomeadamente, nas últimas eleições regionais de 24 de Setembro deste ano.
De acordo com o Censos de 2021, a Madeira tem 250.612 habitantes, apesar de aparecerem inscritos nos cadernos eleitorais 253.877 eleitores (explicáveis pelos emigrantes inscritos, mas que não residem na Região). Foram votar 135.446 eleitores, e 131.776 expressaram validamente o seu voto.
Votaram na coligação PSD/CDS 58.394 eleitores, correspondentes a 44% dos votos válidos. Se juntarmos o PAN à equação, obtemos 61.440 votos e 47% dos votos válidos.
A população activa na Região é, ainda de acordo com os Censos de 2021, de 114.452 pessoas.
Assim, se considerarmos a população activa, classe trabalhadora, a votação obtida pelo PSD e CDS é suficiente para ser maioritária, nem precisando de acrescentar a votação do PAN.
Se considerarmos o universo das pessoas que expressaram validamente o seu voto, a maioria (53,3%) não votou nem no PSD/CDS, nem no PAN, o que dá uma maioria aos partidos da oposição.
A mesma proporção acontece, naturalmente, se considerarmos a população da Madeira com 15 ou mais anos (218.806). 28% votaram no PSD/CDS/PAN e 32% nas demais forças políticas.
Pelo exposto, não se pode dizer com segurança que a maioria social da Madeira pretende uma mudança, mas também não se pode dizer que a afirmação seja falsa. Assim, as palavras de Paulo Cafôfo são imprecisas.