O que fica depois de Costa?
Não foi por falta de tempo. Também não foi por falta de experiência. António Costa foi, depois de Cavaco Silva, o primeiro-ministro que mais tempo esteve em funções em Portugal: oito anos.
Aos 62 anos, Costa já foi um pouco de tudo, na política claro. Sempre na política. Começou aos 21 anos como deputado municipal em Lisboa, e nunca mais parou. Foi vereador em Loures, secretário de Estado duas vezes, ministro outras tantas, primeiro de Guterres e depois de Sócrates. Presidente da Câmara de Lisboa, deputado europeu, deputado nacional, e finalmente primeiro-ministro.
E chegamos a 2023. Depois de 41 anos de carreira política, e de oito à frente dos destinos do país, o que nos deixa António Costa?
Antes de responder a esta questão, é preciso lembrar a forma como ali chegou. Uma história de traição em dois actos. O primeiro, em 2014, quando atraiçoa e afasta o líder do seu partido, António José Seguro, que tinha acabado de ganhar as eleições europeias, e a segunda um ano depois, em 2015, quando atraiçoa os portugueses, e assalta o poder impedindo que, pela primeira vez na história da política nacional, os partidos mais votados pelo povo não pudessem governar.
E para quê? O que fica para o país e para os portugueses dos anos de Costa? Uma mão cheia de nada. Em oito anos, não foi feita uma reforma estrutural no país, e não foi por falta de dinheiro. Costa esteve à frente dos governos com mais dinheiro desde o 25 de Abril, fruto das transferências europeias e da elevada carga fiscal sobre as famílias e as empresas, que nunca aliviou.
À boa maneira socialista foi promovendo um país subsidiado. Em que o salário mínimo já se confunde com o salário médio, que, pasme-se, já não chega para pagar sequer uma renda de uma pequena habitação... quanto mais para comprar uma casa. A resposta, é uma esmolinha aqui, um subsidiozinho acolá...
O “costismo” deixa assim os portugueses mais dependentes de subsídios de um Estado, que falha em cumprir os serviços mínimos em áreas essenciais como a Saúde, a Educação ou a Defesa. Deixa um serviço nacional de saúde de pantanas, sem médicos, sem enfermeiros, sem material básico, com urgências e maternidades encerradas. Um caos. Nas escolas falta tudo. Professores, auxiliares e dignidade para ambos. Sobram alunos e pais sem saber onde os deixar. Na Defesa, são roubadas armas do principal paiol do país, embarcações da Marinha que avariam em plena missão, um ministro envolvido numa investigação sobre corrupção e jovens a morrer em treinos militares.
Deixa um país aos ziguezagues. Onde se voltou a comprar a TAP para depois a vender, com a companhia a continuar a falhar no serviço público para a Madeira e para as comunidades. Pelo meio, os contribuintes foram chamados a enterrar mais de três mil milhões de euros na TAP, que continua a explorar os madeirenses.
Deixou cair o BANIF, abandonando os pequenos clientes, mas deitou a mão aos grandes banqueiros. Deixou um país onde se anda há anos a discutir onde se vai construir o novo aeroporto de Lisboa. Onde se anda há anos a falar da ferrovia, da alta velocidade, e nada acontece. Um país que perdeu uma década, que foi ultrapassado até pelas economias europeias mais frágeis, como a Roménia. Um país onde o Partido Socialista e os seus amigos confundem-se com o próprio Estado. Um país adiado, em convulsão social, onde não há dia sem uma greve, não há semana sem um escândalo, não há mês sem uma demissão no governo.
O que fica então depois de Costa fechar a porta? Fica um tempo, que não deixa saudade. PS nunca mais!
Jesus Basílio