SPEA garante que voluntários salvam centenas de aves encandeadas pelas luzes das cidades
A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em parceria com a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO BirdLife) mobilizou equipas de conservacionistas e voluntários que, ao longo do último mês, "percorreram as ilhas da Madeira, Açores e Canárias, salvando 800 aves marinhas que caíram por terra devido à iluminação artificial", iniciativa "no âmbito do projeto LIFE Natura@night, financiado pela União Europeia, envolvem centenas de voluntários para ajudar a assegurar que as aves juvenis têm sucesso na sua primeira viagem até ao mar".
Assim, "este Outono, campanhas de resgate de aves marinhas na Madeira salvaram 123 aves, graças ao esforço conjunto de 93 voluntários. Nos Açores, mais de 300 voluntários salvaram 119 aves na Graciosa, 154 no Corvo e 357 em São Miguel, enquanto nas Canárias 31 voluntários ajudaram mais de 130 aves a chegar ao mar em Tenerife. Números de apenas 5 ilhas, de um total de 20 que formam os três arquipélagos", contabiliza.
E assegura: "Esta é apenas a ponta do icebergue de uma ameaça que cada vez mais preocupa os conservacionistas: a poluição luminosa. Só nestes três arquipélagos, estima-se que 1.100 aves marinhas morram todos os anos devido à poluição luminosa – um problema especialmente grave dado que estes são locais de reprodução destas espécies que pertencem ao grupo de aves mais ameaçado do mundo."
Refere a nota de imprensa que "a partir de meados de Outubro, as cagarras (conhecidas nos Açores por cagarros)
começam a sair dos ninhos nestas ilhas, rumo a uma vida no mar. Para evitar
predadores, as aves juvenis deixam o ninho ao abrigo da escuridão, usando a lua
e as estrelas para se orientarem. Mas à medida que as povoações humanas
expandiram, este batismo de voo tornou-se cada vez mais perigoso: candeeiros de
rua, faróis de carros e holofotes todos ofuscam a lua, confundindo ou
encandeando as aves. Resultado: as aves podem acabar por cair de exaustão, ou
voar contra obstáculos como edifícios ou carros, arriscando-se a ficar feridas
ou mesmo a morrer".
Lembrando que "estas são semanas intensas, com noite após noite passada a percorrer as ilhas
em busca de aves que possam precisar de ajuda. Mas para as equipas LIFE
Natura@night, o trabalho está longe de terminar depois de a última cria do ano
partir com sucesso. O projeto, que complementa décadas de trabalho da SPEA e da
SEO na região, pretende ir além de salvar aves, evitando que caiam sequer. Os
parceiros do projeto incluem municípios e governos locais, e empresas de
iluminação, que estão a trabalhar juntas para implementar iluminação mais
eficiente e melhor direcionada. Os parceiros do projeto estão a desenvolver
Planos Diretores de Iluminação para serem implementados pelas autoridades
locais, e que os parceiros esperam que venham a estabelecer o padrão para
iluminação pública amiga das aves e do ambiente, na região e mais além".
Mais informa que "este projeto pretende também alargar o seu efeito a entidades privadas – desde cidadãos individuais a hotéis e organizações. Estes esforços incluem um convite a candidatarem-se ao Galardão Noite com Vida, que certifica que um estabelecimento toma medidas para minimizar a poluição luminosa, como usar sensores, temporizadores e redutores de potência para evitar a iluminação desnecessária".
Sendo que, "para avaliar a dimensão do problema, os parceiros LIFE Natura@night estão
também a mapear a poluição luminosa nos três arquipélagos, usando ferramentas
que vão desde censos de embarcações a espectrofotometria", concluindo que "para além das aves marinhas, a poluição luminosa ameaça outras espécies
incluindo insetos noturnos e morcegos, e tem impactos significativos na saúde
humana. 99% dos residentes da Europa e dos EUA vivem sob luz noturna mais
brilhante do que seria naturalmente. Esta exposição prolongada à luz afeta
processos como a produção da hormona melatonina, levando a condições como
privação de sono, fadiga, dores de cabeça, stress e ansiedade, e até, segundo
alguns estudos, aumentando o risco de certos tipos de cancro como o da próstata
e o da mama".