Telavive rejeita resolução do Conselho de Segurança que pede pausas humanitárias
O embaixador de Israel na ONU rejeitou na quinta-feira a resolução aprovada pelo Conselho de Segurança que apela a pausas e corredores humanitários urgentes e alargados em Gaza, argumentando que a medida "está desligada da realidade e sem significado".
"Independentemente do que o Conselho decida, Israel continuará a agir de acordo com a lei internacional, enquanto os terroristas do hamas nem sequer lerão a resolução, muito menos a cumprirão", escreveu Gilad Erdan na plataforma X (antigo Twitter).
De acordo com o diplomata, Israel "continuará a agir até que o hamas seja destruído e os reféns sejam devolvidos".
"É lamentável que o Conselho continue a ignorar, a não condenar, ou mesmo a mencionar, o massacre levado a cabo pelo hamas em 07 de outubro, que conduziu à guerra em Gaza. É realmente vergonhoso", acrescentou Erdan.
A estratégia do hamas, de acordo com o embaixador de Israel, consiste "em deteriorar deliberadamente a situação humanitária na Faixa de Gaza e aumentar o número de vítimas palestinianas, a fim de motivar a ONU e o Conselho de Segurança a travar Israel", mas "isso não vai acontecer", assegurou.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou hoje uma resolução que "apela a pausas e corredores humanitários extensos e urgentes durante um número suficiente de dias" para permitir a entrega de ajuda humanitária aos civis em Gaza.
A resolução, da autoria de Malta, recebeu 12 votos a favor e três abstenções: Estados Unidos, Reino Unido e Rússia.
Os Estados Unidos e o Reino Unido justificaram a sua abstenção com o facto de a resolução não condenar claramente os ataques terroristas do hamas.
A resolução tem um forte ângulo humanitário, com especial destaque para a situação das crianças em Gaza.
O texto, que enfatiza a situação das crianças em quase todos os parágrafos, "exige que todas as partes respeitem as suas obrigações ao abrigo do direito internacional, especialmente no que diz respeito à proteção dos civis, em particular das crianças".
Também "apela" à "libertação imediata e incondicional de todos os reféns detidos pelo Hamas e outros grupos, especialmente crianças".
Apesar das resoluções do Conselho de Segurança serem vinculativas, isso não impede que alguns países as ignorem.
Em resposta à adoção desta resolução, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita instou o Conselho de Segurança e a comunidade internacional a exigir "a rápida libertação de todos os reféns israelitas, conforme estipulado na resolução".
"Não há espaço para tréguas humanitárias prolongadas enquanto 239 raptados estiverem nas mãos de terroristas do Hamas", argumentou o porta-voz, Lior Haiat, na plataforma X.
Para o analista Richard Gowan, do International Crisis Group (ICG), apesar de o Conselho de Segurança ter conseguido superar um bloqueio de 40 dias acerca da guerra em Gaza e adotar uma resolução sobre o assunto, a medida provavelmente não terá qualquer impacto significativo.
"O Conselho de Segurança levou um mês para adotar uma resolução (...), mas temo que isto seja principalmente um dispositivo para aliviar tensões", escreveu o analista, também na plataforma X.
Gowan recordou que o Conselho de Segurança também apelou a um cessar-fogo em guerras desde os Balcãs à Síria "com pouco ou nenhum impacto".
"A resolução foi redigida de uma forma que não coloca nenhuma pressão política real sobre Israel, mas os Estados Unidos provavelmente instarão Israel a mostrar mais flexibilidade nas questões de ajuda para satisfazer a opinião global", disse Gowan à agência Associated Press (AP).
"O conselho não passará deste texto para um apelo a um cessar-fogo, a menos que os factos mudem significativamente no terreno", avaliou ainda.