Sánchez e partido de Puigdemont assumem "profundas discrepâncias"
O líder do partido socialista espanhol (PSOE), Pedro Sánchez, e o Juntos pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente regional Carles Puigdemont, assumiram ontem "profundas discrepâncias", apesar do acordo que fecharam para a viabilização do novo Governo de Espanha.
Sánchez reconheceu que o acordo foi difícil por causa das "posições muito afastadas", "das visões radicalmente diferentes" e das "extraordinárias diferenças" dos dois partidos.
Também a líder do grupo do JxCat no parlamento de Espanha, Miriam Nogueras, realçou "a desconfiança" em relação ao PSOE e as "profundas discrepâncias" e disse que o partido independentista catalão está "consciente dos riscos e da dificuldade" deste acordo com os socialistas, com quem tem um historial de desentendimento e "más experiências".
A troca de declarações ocorreu no plenário do parlamento espanhol, no primeiro dia do debate para a reeleição de Sánchez como primeiro-ministro, que terminará na quinta-feira, com uma votação.
Para ser reconduzido no cargo, na sequência das eleições de 23 de julho, Sánchez precisa dos votos do JxCat, assim como de outros partidos nacionalistas e independentistas da Catalunha, Galiza e País Basco.
Miriam Nogueras iniciou a sua intervenção no plenário exigindo a Sánchez um compromisso claro com o acordo entre os dois partidos, depois de considerar que no discurso de abertura da sessão de hoje, o líder do PSOE não foi corajoso e usou termos em relação à Catalunha que não correspondem ao assinado com o JxCat.
A deputada recordou que no acordo não consta a palavra "diálogo" com os independentistas, mas "negociação", e afirmou que também não há no texto referência a "medidas de graça ou de perdão", mas a uma amnistia de separatistas.
A "estabilidade da legislatura" terá de ser "conquistada acordo a acordo" e depende de avanços no "autogoverno" da Catalunha e do seu "reconhecimento nacional", disse Miriam Nogueras a Pedro Sánchez.
"Dizer que este acordo serve para virar a página é enganar os cidadãos", disse a deputada, que reiterou que o JxCat considera que "o mandato" saído do referendo ilegal de autodeterminação da Catalunha de 2017, em que venceu o sim à independência, continua em vigor e "o compromisso com a independência é irrenunciável".
Sánchez garantiu o compromisso do PSOE com o cumprimento do acordo com o JxCat, que considerou ser "uma oportunidade histórica" porque criou "um espaço de negociação" entre os dois partidos e a possibilidade de "continuar a avançar" na resolução do conflito político na região.
Já sem usar a palavra diálogo em que insistiu na primeira intervenção, Sánchez defendeu que o resultado das eleições de 23 de julho revelou que os catalães "querem a negociação" e disse que PSOE e JxCat, "apesar das grandes diferença" terão de conseguir "manter ativa a negociação de forma permanente".
No debate de hoje, o outro partido catalão que também negociou uma amnistia com o PSOE, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), confirmou o apoio à reeleição de Sánchez e deu as boas-vindas ao JxCat ao caminho que os republicanos iniciaram há quatro anos, na legislatura anterior, com os primeiros acordos com os socialistas.
O deputado Gabriel Rufián reivindicou como conquistas da ERC os indultos aos separatistas que estavam presos e sublinhou que "a solução é sempre a política, a solução é sempre a negociação".
A ERC, que está à frente do governo regional da Catalunha, "começou a tocar uma música há quatro anos que agora todos estão a dançar", afirmou, manifestando esperança de que, "amanhã, talvez" o PSOE vote a favor de um referendo legal dobre a independência da Catalunha, possibilidade que Sánchez a seguir negou.
Gabriel Rufián disse ainda a Sánchez para "não arriscar" porque só tem no parlamento a opção do apoio dos independentistas para se manter à frente do Governo.