Sr. (ex-)primeiro-ministro, as desculpas evitam-se...
Enquanto o país coze em banho-maria até ao próximo mês de Março, data das próximas eleições, o que faz o PS? Preocupa-se com o país? Faz o mea-culpa de mais um caso envolvendo altos dirigentes socialistas e a Justiça? Procura minimizar o impacto que esta indefinição política vai trazer para a economia portuguesa? Envergonha-se ao ver a imagem do país arrastada pela lama por mais estas suspeitas de corrupção? Perde o sono com os problemas do Serviço Nacional de Saúde, onde faltam médicos, onde as urgências estão fechadas e as maternidades são encerradas. Olha para os professores, para os funcionários públicos, para os trabalhadores dos tribunais, para os auxiliares educativos ou para os enfermeiros que há muito reivindicam o descongelamento das suas carreiras? Inquieta-se com as verbas europeias do PRR que podem já não chegar, perante este impasse governativo?
Não. Nada disso! O PS faz o que sempre tem feito nos últimos anos, depois de Guterres ter abandonado o país a correr, e depois de Sócrates ter levado o país à bancarrota... sacode a água do capote e procura sobreviver. Procura agarrar-se ao poder!
Ainda o cadáver político de António Costa não tinha arrefecido, já os socialistas se dividiam para escolher um sucessor. Se uma fação mais à direita para piscar o olho ao centro, se uma fação mais à esquerda para ensaiar mais uma gerigonça de má-memória. Para esta gente, para estes políticos socialistas o País e os portugueses não interessam para nada. Somos todos meros instrumentos, nada mais do que marionetas para o PS garantir mais uns anos de poder.
Num momento desta gravidade, principalmente com o histórico que os socialistas já têm nesta matéria (Sócrates, Manuel Pinho, etc), deviam parar para pensar sobre a arrogância e o sentimento de impunidade que afetam alguns destacados dirigentes do partido. Deviam parar para refletir, sobre o que tem corrido mal nas escolhas que são feitas para cargos políticos. Sobre a forma como pessoas que se veem envolvidas em escândalos judiciais (como o caso das viagens pagas pela Galp para ir ver a seleção) não são pura e simplesmente afastadas do partido. Porque continuam estas pessoas a serem premiadas com secretarias de Estado, como ministérios, numa teia em que envolve todos, e conspurca quem está à volta mesmo aqueles que estão inocentes, como eu quero acreditar que muitos estejam.
Deviam parar e tentar perceber, como é que um individuo, antigo assessor económico de José Sócrates que foi obrigado a pagar uma multa para evitar ir a julgamento no caso das viagens da Galp, que já tinha sido alvo de escutas na Operação Marques, é convidado para chefe de gabinete do primeiro-ministro. Como é que alguém com este currículo chega a ser um homem da inteira confiança de António Costa!
Ou era. Porque quando descobriu que o seu chefe de gabinete tinha 75.800 euros em dinheiro vivo escondidos entre livros e caixas de vinhos, mesmo ali no coração do poder do governo, a poucos metros do seu próprio gabinete, Costa não teve outro remédio do que pedir desculpa.
Mas, caro ainda primeiro-ministro. As desculpas evitam-se. Os portugueses agradeciam e o país não precisava de mergulhar nesta incerteza política com impactos negativos para todos, mesmo para nós madeirenses.
Teresa Gonçalves