Boa noite!

Roger Schmidt, que é treinador de futebol, já devia saber que jornalista que se preze faz perguntas, depois de verificar factos e interpretar honestamente o que vê, lê e ouve.

Após o jogo entre o Benfica e o Sporting, disputado no estádio da Luz, e do milagre nos descontos, questionado se o resultado tinha sido melhor do que a exibição, o treinador encarnado irritou-se. Espalhou-se.

Podia ter sido rigoroso e assumido o que toda a gente viu. Podia não ter respondido. Podia ter alegado que o melhor em campo foi João Neves, um puto maravilha que em 2016 venceu na Madeira a ‘São Vicente Cup’ em sub12 tendo sido na altura o melhor jogador e marcador do torneio no seu escalão. Podia ter dito que a sorte também protege os medíocres. Podia ter fingido que saber ganhar é uma arte. Mas não. Questionou, por duas vezes, a preferência clubística de um jornalista presente na sala de imprensa, se era "do Sporting ou do FC Porto", colocando em causa a sua independência e credibilidade, ou seja, o seu bem maior.

Neste pedaço de terra, se calhar por via da força, já que pela normalidade tende a ser difícil, tem que ser respeitada e garantida a liberdade de fazer perguntas. Mas também de elaborar ‘fact checks’, de redigir notícias, de dar opiniões, de comentar e dar a cara e assinar o que se escreve.  Por isso, tem que ser colocado no seu devido sítio todo aquele conspurca o espaço mediático com o anonimato e com o perfil falso. E têm que ficar falar sós os energúmenos que atentam contra a liberdade de imprensa.

Não podemos tolerar a atitude de Roger Schmidt nem de qualquer outro arrogante que trate com os pés o que precisa de cabeça. Seja ele futebolista, dirigente, treinador, roupeiro, presidente ou anestesista. Seja ele agente da baixa política ou alto magistrado da Nação. Seja ele um delinquente travestido de prodígio tecnológico ou um miserável a quem saiu a sorte grande.

É inaceitável num país em que a Liberdade de Imprensa é uma garantia fundamental e pilar da democracia que os protagonistas que gozam de dimensão pública e social abusem de comportamentos irresponsáveis e desajustados. Que em desespero de causa desatem numa perseguição inexplicável aos jornalistas e "destes façam bode expiatório para fugir a questões legítimas e que podem e devem ser feitas".

Como lembrava e bem o Sindicato dos Jornalistas “questionar é a essência do exercício do Jornalismo” e atitudes como a de Roger Schmidt “colocam em causa a idoneidade de uma classe profissional”. O problema é que a nobre missão de informar não é só posta em causa pela malta da bola, das ganzas ou das passas, das máfias da desinformação e das agências de comunicação. Há gente recentemente eleita neste rochedo que faz bem pior. Nada que uma boa série de perguntas em directo e ao vivo não desmascare.