A intenção direciona a atenção
Quando nos afastamos do nosso caminho podemos questionar-nos: “será que estou a agir de acordo com as minhas intenções?” “O que posso fazer para me reconectar e alinhar com elas?” Não é sobre ser perfeito, é sobre ser intencional.
A intenção direciona a atenção. É uma das minhas convicções mais fortes e com evidência científica. Nesta altura do ano são já muitos os que pegam numa folha de papel e esferográfica, e, indo ao encontro do ditado “ano vida nova”, se sentam para definir objetivos para 2024. Parece-me bem. Ainda assim, pode ser insuficiente. É que para facilitar o processo de escolher para onde queremos direcionar a nossa atençãoconsciente, antes de qualquer outra coisa, é essencial definir, com clareza e congruência quais são as nossas intenções. E as intenções são bem diferentes dos objetivos. Um objetivo, tecnicamente é alguma coisa específica. Com recurso à neurolinguística, uso normalmente, o modelo SMART para definir objetivos: (specific) especifico, (measurable) mensurável, (attainable) atingível, (realistic) realista, (time-bound) com prazo definido. Já a intenção é a razão pela qual queremos alcançar os nossos objetivos. Os objetivos são meios para alcançar determinados fins e os fins são as intenções.
Às vezes, por trás de um objetivo existe outro objetivo. Imaginemos que o meu objetivo para 2024 é o de correr uma maratona. Se eu me questionar “porque é que tenho este objetivo?”, respondo facilmente que “acredito que se conseguir correr uma maratona isso significa que eu sou saudável”. Então, descubro que, no fundo, o objetivo é ser saudável. E qual é a intenção por trás disto? Sem conhecer a intenção, mesmo que este objetivo tenha sido muito bem definido, com a preciosa ajuda do modelo SMART, pode falhar.
Outro exemplo que costumo entregar aos meus alunos, e por ser transversal a tudo na vida, é o da parentalidade generativa. Ela começa com uma intenção. Essa intenção clara define quem queremos ser na relação connosco e com os nossos filhos para que eles possam florescer íntegros, livres e responsáveis na sua autenticidade e para que não precisem da nossa aprovação, nem de corresponder às nossas expetativas. Eles e nós, adultos. Ouço muitas vezes os pais dizerem: “quero que o meu filho seja feliz, que seja autónomo, responsável, bom aluno, bom desportista...”. São objetivos que não dependem em exclusivo de nós, pais, (logo não podem sequer ser objetivos) e acabam por criar mais pressão e gerar muitas expetativas. Criam frustração nos pais, que investem tanto e que acreditam fazer de tudo para que o filho sejaquem acham que deveria ser. Estes ‘objectivos’ podem ter ainda, um impacto muito negativo na auto-estimado filho, já que este não satisfez o desejo dos pais, acabando por sentir que ele próprio, não tem valor.
Por outro lado, ao investigarmos qual é a intenção destes objetivos, colocamos o foco na origem do processo. Respondemos a questões: “como quero que o meu filho me recorde?”, “que mãe/ pai quero e posso ser, contribuindo para que o meu filho viva mais feliz, mais autêntico?”, “de que forma posso propor e criar um espaço seguro para que o meu filho cresça física e emocionalmente saudável?”, “como é que posso ser modelo do que quero ver acontecer com o meu filho?” É que a parentalidade generativa não tem a ver com sermos pais e educadores perfeitos, tem a ver com ganhar consciência do que está e não está alinhado com as nossas intenções e regressar a esse caminho.
Quando isolamos a intenção por trás do objetivo descobrimos que há afinal, muitos objetivos que podem alcançar aquela intenção. Até porque esta, estará sempre conectada a necessidades psicológicas, ao preenchimento de necessidades que nos conduzem ao bem-estar físico e emocional. Quando nos (re)conectamos com isso, normalmente, descobrimos que temos muito mais possibilidades e recursos à nossa disposição. E descobrimos até, que muitas intenções são mais fáceis de alcançar do que pensávamos inicialmente, e que outras, são mais ecológicas. E se um objetivo, quando alcançado, deixa de estar ativo - as intenções acompanham-nos para sempre, são um farol.
Para mim é claro que as intenções são o caminho para nos alcançarmos a nós próprios. Para desenvolvermos as nossas virtudes, sejam elas a autencidade, a humildade, a coragem, a empatia, a generosidade, sejam outras que nos façam sentido.