“O grande problema é a boa gestão” (sic*)
Como é possível o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ter muito (mesmo muito) mais dinheiro orçamentado, contar com mais médicos, que fazem mais urgências (cerca de 17.800 doentes atendidos por dia), mais cirurgias (cerca de 2.700 por dia), mais consultas (cerca de 58.000 por dia), e continuar numa decadência abismal?
Como é possível, há mais de 40 anos, Portugal manter o funcionamento SNS com base no trabalho extraordinário?
Portugal tem cerca de 60 mil médicos. Somos dos países com maior rácio médico/habitante, na união europeia (há 5,4 médicos por 1.000 habitantes). Todos os anos são formados perto de 1.500 médicos. O grande problema não é a falta de médicos, nem de dinheiro, como apontaram Centeno e Medina… O grande problema é a má gestão! São os nossos próprios governantes que o assumem! Costa ainda no final do mês passado disse que “o grande problema (do SNS) é a boa gestão desses recursos”.
Mas então… Como é possível que Costa, Medina, Centeno, Pizarro, Temido, (e outros) saibam que o problema do SNS é a sua horrível gestão, e continuem a assobiar para o lado?
Um médico em início de carreira recebe 1.500€ líquidos, por mês, no sector público. Com 30 anos de carreira, esse médico receberá mais 300€. Para que o médico consiga trazer o dobro ou o triplo desse ordenado, terá que trabalhar muitas horas extraordinárias. Ora, o privado consegue pagar esse dobro, triplo ou quadruplo, sem necessidade de escravizar o seu trabalhador. Não admira que os médicos optem pelo sector privado (ou mesmo a emigração)… trabalhar menos horas e ganhar mais, parece-me uma razão perfeitamente justificada.
Os médicos estão fartos de abdicar do seu tempo pessoal, da sua saúde física e mental, em prol desta perpétua má gestão governamental. Por isso, vários médicos entregam, diariamente, a minuta de dispensa de trabalho extraordinário além das 150 horas anuais legalmente previstas, obrigando ao encerramento de várias urgências. Mas não somos os únicos cansados desta horrível gestão… os portugueses, no geral, também o estão. Isso é notório, com o aumento do número de pessoas com seguros de saúde (já chega a 1/3 da população).
Havendo dinheiro e recursos, o SNS tem que ser competitivo! Tem obrigação de reter os seus profissionais, dando-lhes mais e melhores condições.
Futuro do SNS
O Orçamento do Estado para 2023, realizado pelo governo de António Costa, reserva mais de 14,8 mil milhões de euros para o setor da saúde. Serão mais 1,1 mil milhões de euros face a 2022. Será um dos maiores orçamentos para a área da saúde.
A saúde não deve ser assegurada por escravos que se matam a trabalhar!
Um ministério da saúde que não consegue perceber isto, não tem quaisquer condições para se manter em funções! Um governo que necessita de uma direcção executiva para perceber o que está mal na sua gestão, não pode continuar ao leme de um país!
Recomendo a visualização da rubrica semanal “As pessoas não são números”, do jornalista Pedro Santos Guerreiro, transmitida no passado dia 31 de Outubro, na TVI.
*”sic” advém do latim sic erat scriptum, que significa “assim estava escrito”. É utilizado quando transcrevemos exactamente aquilo que foi dito/escrito.