O Marítimo desloca-se, a 25 de Novembro próximo, a Vila Nova de Gaia para defrontar o Canelas 2010, em jogo a contar para a quarta eliminatória da Taça de Portugal. Quando foi conhecido o nome do adversário da equipa madeirense, surgiram comentários nas redes sociais a associar a equipa nortenha a comportamentos violentos dentro e fora de campo. Será que esse rótulo tem alguma correspondência com a realidade?

O Clube de Futebol Canelas 2010 tem as suas origens no Canelas Gaia Futebol Clube, instituição fundada em 6 de Fevereiro de 1966, na freguesia de Canelas, concelho de Vila Nova de Gaia, na zona do Porto. Devido a problemas financeiros, o clube encerrou em 2006, mas foi refundado a 28 de Abril de 2010 como CF Canelas 2010. Compete presentemente na Liga 3, o equivalente à terceira divisão da Federação Portuguesa de Futebol.

Este clube, que é propriedade de Fernando Madureira, líder de uma claque do FC Porto, também conhecido pela alcunha de ‘Macaco’, tornou-se um foco de atenção mediática há sete anos. Tudo por causa dos excessos cometidos pelos seus atletas em determinados jogos, nalguns casos de agressão violenta aos adversários e aos árbitros. Nalguns casos a impetuosidade das intervenções físicas dos jogadores nada tinha a ver com as normais disputas do futebol, assemelhando-se mais a modalidades de luta livre ou artes marciais.

Excertos das gravações em vídeo desses jogos mais polémicos foram publicados no Youtube e apresentados em reportagens de TV, em Portugal e no estrangeiro. O canal brasileiro de desporto online ‘Peleja’, que tem mais de 2 milhões de subscritores, apresentou o Canelas como sendo “o time [clube] mais violento do Mundo”, com o qual toda a gente “tem medo de jogar”.

A situação mais violenta aconteceu a 2 de Abril de 2017. Num jogo contra o Rio Tinto, a contar para a fase de subida do Campeonato Distrital do Porto, o jogador Marco Gonçalves, do Canelas 2010, agrediu a soco um adversário. Quando o árbitro o ia advertir, o atleta agarrou o juiz pelo pescoço, fazendo-lhe uma 'gravata', "puxou-lhe a cabeça para baixo e desferiu-lhe uma pancada com o joelho, atingindo-o na cara, especialmente no nariz". O Ministério Público veio a deduzir acusação contra o futebolista pela prática do crime de ofensas à integridade física. Por acórdão de 24 de Maio de 2019, o tribunal de Gondomar condenou Marco Gonçalves a 11 meses de prisão, com pena suspensa, na condição de pagar 3.600 euros. O jogador recorreu para o Tribunal da Relação do Porto, que confirmou a decisão da primeira instância.

Em comentários nos vídeos no Youtube e em publicações no Facebook, há pessoas que chamam à atenção que "desde que o Canelas subiu para a 3.ª divisão, nunca mais se viu tantos casos de violência nos jogos como havia antes". A estatística disciplinar mostra que esta afirmação é verdadeira. No entanto, se dentro do campo já não se regista tanta agressividade, o mesmo não se pode dizer em relação aos seus dirigentes e à claque, que continuam a somar castigos por condutas antidesportivas.

Nem o clube nem a sua impetuosidade são desconhecidos do Marítimo. Em Maio de 2021, o Canelas 2010 veio jogar à Madeira contra a equipa B verde-rubra. Os visitantes perderam por 4-3 mas venceram no campeonato da quezília, tendo o árbitro da partida expulsado um jogador, dois elementos da equipa técnica e um dirigente do Canelas. Na reportagem da RTP-Madeira sobre o jogo ouve-se a voz de Fernando Madureira a insultar o árbitro de Viana do Castelo e ameaçar “tratar” dele na viagem de regresso ao continente.

Mais recentemente, Fernando Madureira foi castigado com oito dias de suspensão pelo Conselho de Disciplina (Secção Não Profissional) da Federação Portuguesa de Futebol devido à sua conduta num jogo contra o Varzim, disputado a 16 de Setembro passado. O dono do clube foi punido por entrar na zona técnica, sem autorização para tal efeito, e ainda “uso de expressões ou gestos grosseiros, impróprios ou incorrectos”. Terá ainda de pagar duas multas, num total de 460 euros.